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POVO DA ENCOSTA DA PRAIA E DO FUNDO DO MAR


Muito se fala dos caboclos, das crianças e dos pretos-velhos da Umbanda. Também é relativamente fácil achar textos sobre os boiadeiros, marinheiros, ciganos, povo do oriente.
Mas o mundo é muito grande, e estou falando apenas do nosso, este que conhecemos, ou achamos que conhecemos, pois há uma enormidade de coisas que sequer imaginamos, mas nem por isso estas coisas inexistem…Continue Lendo

SOBRE OS CANGACEIROS DE ARUANDA


Na linha dos boiadeiros, trabalham espíritos que serviam ao cangaço, principalmente do grupo de Virgulino Lampião. Eram homens valorosos, muitos cometeram atrocidades, mas n a espiritualidade resgataram suas dívidas e hoje estão protegendo e usando seu conhecimento no auxílio dos problemas nossos de cada dia. Continue Lendo

ODOIÁ, MINHA MÃE IEMANJÁ!


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Saravá Mãe D’agua! Salve Rainha das Ondas, sereia do Mar! Que nos acompanhaste por todas as luas, por cada amanhecer deste ano que se despede!

Salve, minha Mãe! Que protegeste cada filho seu em cada passo, que choraste com nossas dores, e colocastes a mãos sobre nossas cabeças nas noites insones. Que nos abraçaste nas horas aflitas, e na invisibilidade nos acolheste e nos embalastes nas suas ondas.

Muitas vezes os filhos da terra se assustaram com a força das águas que invadiram as cidades e lares, mas tenho certeza que foi sua intersessão que impediu que fosse pior, assim como tenho certeza que minha integridade física e espiritual, tantas vezes testada, esteve em todos os instantes sob sua tutela e proteção.

Quantas vezes nos deste a mão e foi com teus passos que nos conduziste a melhores caminhos que aqueles que poderíamos ter escolhido. Nos mostra o infinito mar e sua Força a cada dia, mas nem sempre conseguimos senti-la.

Maleme, minha mãe, estarei mais sintonizado para perceber seus emissários, estas Caboclas e Caboclos do mar, estes Preto Velhos que lhe representam na espiritualidade junto a nós, assim como os Boiadeiros e os Ciganos que navegam contigo pelo mar afora. A vida muitas vezes nos oprime e quer nos tirar a visão, mas eu vejo e nesta hora lhe entrego meu coração repleto de agradecimento por todas as graças, por todas as bênçãos, por todas as lições, que carregarei para todo sempre, onde eu estiver.

Minha oferenda é meu Amor representado por uma rosa branca que coloco sob seu altar sagrado, sentindo a areia sob meus pés, pedindo licença e humildemente lhe entrego, pois quero ser esta rosa, quero ser a própria oferenda, sendo o mais simples de seus seguidores materializados neste orbe.

Odociaba, contigo nunca estarei sozinho, seguirei pela minha Fé, levando aos ventos que a Umbanda é Alegria, é transformação, é caminhar firme. Serei seu marinheiro, andando sobre as ondas desta vida, aonde quiseres me levar, e no balanço do Mar Astral, estarei caminhando pelas ondas e pelas estrelas. Saudarei todas as Iabás, benditas, e nunca me perderei pois é o rumo, é o farol, é a Estrela guia no céu, é o acalanto de todas as horas na terra.

Que todos os cantos evocados nesta época do ano, cheguem a Ti e consigam suas graças, que todas as oferendas que receba, todas as que realmente tiverem a direção mágica da Fé e da Esperança, sejam por Ti recebidas, como um singelo agradecimento pelo muito que fazes, pelas inúmeras coisas inimagináveis que acontecem, e só quem crê entende. Senhora, que mora no esplendor do Oceano, a doçura de seu olhar nos emociona, entenda que muitas vezes enchemos seu reino de detritos, mas que eles não sejam poluentes e sim plenos do Amor, da Gratidão, do Reconhecimento por suas abundantes dádivas.

Mãe Janaína, somos tão pequenos, frente seu esplendor, mas ouvimos seu canto, e vamos a sua direção, aprendemos a acreditar, aprendemos a lhe respeitar, e tentamos seguir reto, para não ter o lhe temer. Mas sempre nosso íntimo estremece quando em contato com sua vibração, e se manifesta com esta Força da Natureza tão intensa que é o Mar imenso que é sua morada na Terra, pois no Astral sabemos que está junto aos outros Orixás, brilhando intensamente, com seu manto de estrelas, trabalhando todos juntos para nossa evolução.

Amada Rainha das Águas, Mensageira da Paz! Que a Terra esteja em posição de evoluir suficientemente, seus habitantes lhe respeitem e guardem os bens valiosos da Natureza, que esses pensamentos permeiem a todos para que cada um veja a direção da sua Luz, e no espelho d’água , assumam a proteção do planeta, fazendo-o melhor, mais limpo, menos acossado por guerras, mais permeado pela Fraternidade, pela União, e seguindo suas marés, prossiga ininterruptamente para sua Evolução!

Ah, Iemanjá! Quanto mais eu quisera dizer, mas sigo, embalado por suas ondas, em silêncio, ultrapassando as areias fronteiriças e mergulhando em suas santas águas, me mantendo em oração por Ti, e por todos nós.
Salve a Sua Luz Infinita, Salve a coroa de Zambi que permite a vibração de todos estes Orixás benditos!
Alex de Oxóssi
Rio Bonito – RJ

Vote, seu voto é muito importante para nós:

CABOCLOS DE COURO – AMIGOS DE OURO


pa1Espíritos que em encarnação recente viveram no agreste, agregaram-se às fileiras da Luz Divina, essa Umbanda que vela pela população brasileira, e no astral se irmana à Espiritualidade Superior que envolve todo o Planeta.

Espíritos que foram fortalecidos e burilados pelas condições difíceis, pelas dificuldades da vida, que encontravam na caatinga sua alegria e sustento.

Boiadeiros, Mineiros, Cangaceiros, cujas vidas eram ligadas aos animais e à natureza, ao vigor e à necessidade. Que viveram conhecendo o valor das pequenas coisas, do por do sol e do nascer do sol, do arroio pequeno com a água pouca, as paixões fartas e a alma imensa, aderida ao céu e às estrelas.

Os Boiadeiros que foram do cangaço, que lutaram pela liberdade, que sabiam o valor do trabalho, da união, pois sem união não se sobrevive na paisagem inóspita. Que aprenderam o significado de justiça e do que realmente vale a pena, e que na espiritualidade estas qualidades foram refinadas para seu uso no Bem, e que hoje escoltam aquele que moureja nesta Terra Fria, que quer manter os valores da moral e da verdade.

O Boiadeiro de Umbanda anda sob as ordens do Senhor Ogum, trabalha junto aos caboclos de pena, e caminham entre os pretos velhos contra as mais difíceis demandas. Trazem em seu lema o destemor e a Fé, inquebrantável Fé na Justiça Divina, e assim seguem no compromisso de ajudar os filhos da Terra que ainda estão lutando contra as más tendências, contra as injustiças e intempéries morais.

Boiadeiro, às vezes esquecido, mas incansável em proteger-nos das demandas, das investidas do mal, intemeratos, persistentes, sempre presentes, cordatos e vigilantes, quando nem mesmo imaginamos que estamos sob ataque espiritual.pa2

Junto dos boiadeiros e cangaceiros, há também ajudando, quase desapercebidas, as boiadeiras e cangaceiras, da mesma linha, e com a mesma Força, que através do trabalho árduo vêm se burilando, porque sabem que se espera se perfeito para trabalhar nas caravanas do Bem, da Luz, em nome de Oxalá.

Quando em sofrimento, quando a alma estiver angustiada, quando a vida estiver pesada, peça aos Boiadeiros, trabalhadores de todas as horas, para que façam valer sua Força e a sua Luz, orientando para os caminhos certos, desde que se compreendam os valores morais, os limites de certo e errado, a dimensão da justiça, a Lei de Retorno, do Equilíbrio, do Bem, conscientes da Luz e sombras que nos cercam, e eles sempre nortearão por caminhos que já trilharam e hoje adquiriram a Sabedoria, sendo generosos e pródigos em nos aconselhar.

Saravá os Boiadeiros da Umbanda! Jetruá Boiadeiro!

Alex de Oxóssi
Rio Bonito – RJ

SALVE A JUREMA SAGRADA!


(O culto da Jurema na Paraíba)


Marinaldo José da Silva e Maria Ignez Novais Ayala
– Universidade Federal da Paraíba


Seu Zé de Nana meu nêgo
Você não é camarada
No meio de tanta moça
Roubou minha namorada

O que é que eu faço da vida
Par Paraíba eu não vou
A namorada que eu tinha
Seu Zé de Nana roubou



“Salve a Jurema Sagrada, salve eu, salve vói, salve minha tronqueira e salve minha cachaça, salve meu cachimbo e salve minhas encruza! E quem pode mais do que Deus? Só Deus e mais ninguém, né nêgo? Agora me daí meu chapéu, meu cachimbo e minha cachaça par eu molhar a guela e dançar aquele coco com uma nêga bem boa!”


O pau pendeu não caiu
Zé de Nana chegou
E ninguém viu

É característico dos Mestres juremeiros quando chegam em terra saudarem a Jurema Sagrada, a sua tronqueria1, e tudo que a eles pertence e a Deus. E pedem para cantar o seu ponto, que pode ser um coco ou não.

No universo da literatura oral, a própria criação se nutre da imaginação que se ancora na realidade daqueles que fazem da cultura popular uma circundante poética onde transitam mitos, narrativas, religiões e vários costumes afro-brasileiros. São evidentes as marcas da diáspora negra nessas variações populares, cabendo à Jurema e ao coco, elementos de estudo deste trabalho, a contemplação do afro-brasileiro-mágico-religioso, considerados fazedores de cultura. É no sentido de “trânsito” entre as atividades diversas pertencentes ao mundo da oralidade que nos propusemos a mostrar os vários pontos em comum da Jurema Sagrada e do coco de roda.

O caráter religioso desta dança tem despertado nossa atenção, levando-nos, inicialmente, a reunir os cocos que se referem a santos católicos e às práticas do catolicismo popular. Recentemente, em meio a uma das religiões brasileiras, que tem muitos adeptos na Paraíba – a Jurema Sagrada ” encontramos vários cocos, que aparecem como pontos de gira. A Jurema Sagrada é um dos vários cultos com fortes marcas indígenas que se mesclam com traços do catolicismo popular, do espiritismo e das religiões negras do Brasil ” candomblé e Umbanda.

Difícil dizer hoje a origem ou o que predomina nesse culto afro-brasileiro, fundamentado em ervas, raízes e casacas de árvore usadas com função mágica para acura ou para afastar males e recuperar as energias dos fiéis e de todos aqueles que procuram o auxílio dos Mestres juremeiros. Muitas vezes essas ervas são utilizadas em forma de fumo, que serve para a defumação da casa, e de amaci, fusão de ervas que serve para o batismo do iniciado na Jurema, além da semente e do vinho extraído da árvore sagrada num sentido mágico-religioso.

Nos estudos que compõem a bibliografia sobre as religiões afro-brasileiras, são muitos os títulos dedicados ao candomblé, ao catimbó, ao xangô e à Umbanda; aparecem referências à Jurema como uma linha da Umbanda. O culto da Jurema era elemento principal do catimbó, conforme os estudos de Câmara Cascudo, Roger Bastide e Oneyda Alvarenga. Essa última publicou em 1949 Catimbó, a partir da bibliografia então existente e da farta documentação reunida em 1938, pela Missão de Pesquisas Folclóricas, da Discoteca Municipal de São Paulo, por meio da pesquisa de campo no Nordeste.

Na década de 30 houve grande perseguição policial aos catimbós e aos catimbozeiros, com prisões, fechamento, destruição das casas e apreensão de objetos utilizados no culto. Até hoje, os termos catimbó e catimbozeiro têm conotação pejorativa no Nordeste, comportando forte carga de preconceito.

Na Paraíba, atualmente, o culto da Jurema se encontra ajustado à Umbanda. Nas casas por nós visitadas, as cerimônias ocorrem no mesmo salão em que são desenvolvidos os cultos aos orixás da Umbanda, diferindo apenas os pejis e as camarinhas, ou em espaço contíguo, dedicado exclusivamente à Jurema.

Como linha da Umbanda ou como culto independente que se abriga no mesmo teto, mas que reconhece Alhandra como a cidade da Paraíba tida como local de onde se irradiou o ritual religioso, a Jurema tem muitos adeptos que ressaltam os poderes de cura dos Mestres juremeiros.

Além da cidade de Alhandra, existe a “cidade encantada de Tambaba”, local de muitos mistérios dos senhores Mestres encantados. Citando René Vandezande:

“A tradição diz unanimemente que no alto da praia de Tambaba houve uma Cidade da Jurema de igual nome, anos passados: porém, esta cidade foi “devorada” pelo mar, e de lá teria origem o culto que ainda hoje os juremeiros prestam ocasionalmente nesta praia. Una juremeiros que foram lá em nossa companhia demonstraram o máximo respeito para o lugar. Diversas vezes fomos a essa praia solitária, encontrando, cada vez, objetos de culto e velas. O barulho que as ondas produzem nas rochas de formas fantásticas é interpretado como a voz dos Mestres.” 2

E hoje Tambaba é uma praia de nudismo muito visitada pelos turistas.

Mestres são as entidades principais desse culto que aparecem nas sessões semanais das casas destinadas à Jurema e nas festas periódicas dedicadas a eles. São Exus, índios, caboclos, reis de iorubá, caboquinhas de pena, boiadeiros, baianas, pretos velhos, marinheiros, pescadores e também ciganas, Pomba-gira, Zé Pelintra, Maria Padilha e toda sua companhia. E como se não bastasse, a Cumade Fulozinha e a figura do cangaceiro, Também personagens das narrativas e contos populares, transitando na Jurema Sagrada. Segundo a fala de um dos depoentes umbandistas: “Cumade Fulozinha é uma identidade muito perigosa: ela tanto trabalha pro bem, como trabalha pro mal.”

Todos animadíssimos com seus pontos cantados e com o som dos elus, gaitas e maracás, a cachaça, o vinho da Jurema e a fumaça dos cachimbos de Jurema ou de angico, de um ou de sete canudos de fumaça (e em raros casos de charutos), constantemente fumados ao contrário, com o lado da brasa dentro da boca.

A Jurema tem vários tipos de ritual: Jurema de chão, Jurema traçada, Jurema de meia-noite armada.

A Jurema de chão é um ritual em que os juremeiros ficam sentados no chão em frente ao gongá (altar de Jurema) com imagens de Mestres , índios, pretos-velhos, caboclos e até mesmo Padre Cícero. A tronqueira do mestre da casa com um cachimbo de sete-fumaças, uma cumbuca com fumo de várias ervas: alecrim do campo, liamba, erva-doce, fumo-de-rolo, abre-caminho; e muitos cachimbos. Invocam as entidades para darem passes e fazerem consultas. Nessa sessão também são invocadas, sem obedecer a uma seqüência, todas as entidades ao mesmo tempo e pode Ter batuque dos elus (tambores) ou não. Há ponto cantado. A Jurema de meia-noite armada ocorre realmente à meia-noite, também no chão; é arriada no centro do terreiro a tronqueira do mestre da casa, que é responsável pela sessão; jarros com ervas da Jurema (pinhão roxo, comigo-ninguém-pode, pé da felicidade, aroeira), sete qualidades de cachaça, champanha, vinho tinto, vinho branco, cerveja, mel, uma garrafada de Jurema “preparada”, um cruzeiro de velas brancas, alguidares com frutas, três alguidares com fumos preparados (fumo de queda, fumo de descarrego e fumo de levanta), cachimbos cruzados, charutos e cigarros, palitos de fósforo cruzados, velas coloridas cruzadas e uma garrafa de plástico com Jurema para passar no corpo como descarrego.

Nessa Jurema não há elu, pois é apenas cantada para a realização de “trabalhos” em hora grande, horário especial dos Mestres fazerem as coisas funcionarem melhor, com mais força, pois só com o canto e a concentração no silêncio da madrugada fazem render resultados positivos, trabalhando com o que eles mais gostam: cachaça, cachimbo e os cocos ” daqui e de lá do outro mundo.


Mas eu pisei na rama
A rama estremeceu
Não beba dessa água, oi morena
Quem bebeu morreu

Esse coco é meu
É da Paraíba
É de Catolé
É de macaíba

Meu avião de alumínio
Que voa de norte a sul
Mulher que rapa o cangote
Do céu não vê o azul

Ô Lili, minha Lili
A mulher que eu mais amava
Nas tranças dos seus cabelos
Aonde eu me balançava

Ganham sentido de pontos cantados, louvações e orações. Cocos que remetem a vários sentidos além do “sagrado” e da “brincadeira”, que se fundem independentemente de temas específicos para prenunciar a alegria e a força do trabalho na Jurema encantada.

Nos próprios pontos cantados de Jurema, podemos perceber vários elementos informativos do culto, encontrados em uma das Juremas da Torre:


Era uma mesa branca
Toda enfeitada de flores
E hoje é uma tenda de Jurema
De paz, de luz e de amor
(…)3

Zum, zum, zum ô Jurema
Vamo trabalhar ô Jurema
Desmanchar macumba ô Jurema
Catimbó e azar ô Jurema4

Jurema minha Jurema
Meu tesouro rico
E olha o tombo da Jurema
Que ela vale ouro
(…)5

A Jurema é minha madrinha
Jesus é o meu protetor
A Jurema é pau sagrado
Deu sombra a Nosso Senhor6


NA PANCADA DOS COCOS

Os instrumentos da Jurema são basicamente os mesmos da brincadeira do coco. Os instrumentos utilizados são todos de percussão. Na brincadeira é usado um zabumba e na Jurema um elu, tocado pelo ogã. Ambos são cobertos por um couro de bode, existindo uma pequena diferença no zabumba, que é coberto por dois couros: um couro de bode e outro de “boda”.

Nos rituais de Jurema, o mestre aceita qualquer batida do elu; o mais importante é o coco cantado, que tem força para “seus trabalho”, com sua cachaça e com suas namoradas. Ainda temos o ganzá, que está presente nas duas manifestações, muitas vezes improvisado com uma lata vazia, com pedrinhas ou sementes dentro. Maracás, espécie de chocalho, com som semelhante ao do ganzá, também fazem parte. O triângulo, instrumento apenas da Jurema tem o formato correspondente ao nome, feito artesanalmente, a partir de restos de ferros utilizados na construção civil, batido com um bastão do mesmo material. Também pode aparecer gaitas feitas de bambu, semelhantes a uma pequena flauta, como asa tocadas pelos participantes das tribos indígenas do carnaval.

Os pontos são acompanhados por palmas e batidas de pés. O espaço para o ritual tanto pode ser fechado (o interior dos terreiros), quanto aberto (a rua, a encruzilhada, o mato).

Os cocos cantados como pontos de Jurema foram encontrados em espaços abertos e fechados, nos diferentes tipos de ritual. Também encontramos o que parece ser ponto de Umbanda ou Jurema, cantado como coco em festas de São João nas ruas do bairro da Torre. Os limites da cultura popular são muito tênues.

No bairro da Torre, em João Pessoa (PB), são encontradas muitas casa de Umbanda e Jurema. O bairro também se caracteriza pela riqueza de manifestações populares, dentre as quais a malhação de Judas em várias ruas, palhoças e quadrilhas, cocos e cirandas, blocos de carnaval, tribos (o nome que se dá na Paraíba à dança conhecida como caboclinhos em Pernambuco), escolas de samba.

Em 1938, integrantes da MPF (Missão de Pesquisas Folclóricas), fizeram diferentes registros da cultuar popular na então Torrelândia: narrativas populares, sessões de catimbó, tribo dos índios africanos, barca.

Em vista desses argumentos mencionados, vimos através das manifestações populares afro-brasileiras, a presença de vários cocos de roda cantados como canto religioso no sentido de trânsito entre atividades diversas pertencentes ao grande universo da literatura oral.

E salve a Jurema Sagrada!


NOTAS

1. Parte de um tronco de Jurema aonde fica “assentado” o mestre. Morada do mestre.

2. VANDEZANDE, René. Catimbó. Pesquisa exploratória sobre uma forma de religião mediúnica. Recife: PIMES do IFCH da UFPE, 1975, p.44. Apud CABRAL, Elisa Maria. A Jurema Sagrada. João Pessoa: PPGS-UFPB, 1997, p.23-24.

3. Lembranças da mesa branca do espiritismo

4. Desfeitura de trabalhos pesados

5. Mistérios e encantos da Jurema

6. Sobre a árvore sagrada

DESCONHEÇO O AUTOR E AS FONTES PESQUISADAS

(Este texto foi baixado no e-mule)

BOIADEIROS


boia

Autor: Etiene Sales

 

No decorrer da gira de Caboclo, o chefe do terreiro diz: – “Getuá Boiadeiro!”.

O Ogam prepara a mão e a solta no couro do atabaque e canta:

Me Chamam Boiadeiro
Boiadeiro eu não sou não
Eu sou laçador de gado
Boiadeiro é meu patrão
Getuê, getuá
Corda de laçar meu boi
Getuê, getuá
Corda de meu boi laçar

Alguns Caboclos, também chefes de terreiro, continuam em Terra para ajudar no desenvolvimento dos médiuns e a gira de Boiadeiro começa dentro da gira de Caboclos.

Os Boiadeiros vêm dentro da corrente de Oxosse, dos Caboclos. Eles são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, “o caboclo sertanejo”. São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai.

Sofreram preconceitos, como os “sem raça”, sem definição de sua origem. Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do índio e a do negro, sincretismo) e sua língua, entre outras coisas.

Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.

O Terreiro os Boiadeiros vêm “descendo em seus aparelhos” como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração.

Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência.

Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ”e no descarrego e no preparo dos médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, como os Exus.

Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam a humildade, os Boiadeiros representam a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande.

Os Boiadeiros em seus trabalhos bebem vinho ou marafó (aguardente) e fumam cigarro, cigarro de palha e charutos.

Quando o médium é mulher e o Boiadeiro (entidade) é homem, freqüentemente, a entidade pede para que seja colocado um pano e cor, bem apertado, cobrindo o formato os seios. Estes panos acabam, por vezes, como um identificador da entidade, e até a sua linha mais forte de atuação, pela sua cor ou composição de cores.

Autor: Etiene Sales – 1998

A bondade de Deus


Temos como verdade, a partir do ensinamento bíblico, que Deus nos fez a sua imagem e semelhança, que todos somos seus filhos e que Ele, pela Sua infinita bondade, não coloca seus filhos no mundo para sofrer.

Nos dá o livre arbítrio para seguirmos os caminhos que aparentemente achamos que sejam melhor para nós, mesmo sujeitos a erros de decisão.

Deus é tão justo e bom que mesmo em nossos erros, sempre oferece novas oportunidades para o alívio de nossas dificuldades e para nosso crescimento moral e espiritual.

Prova disso é que Ele põe a disposição de seus amados filhos, para amparo e entendimento espiritual, as religiões espiritualistas, e, em especial, a nossa querida Umbanda.

Permite que Espíritos evoluídos e esclarecidos, venham, através dos milhares de Terreiros, nos trazer palavras de fé, discernimento e esperança, justamente para amenizar nossos sofrimentos terrenos.

Esses Espíritos, totalmente desprovidos de vaidade, vem até os filhos de Deus encarnados, muitas vezes chamando-os à razão, tentando ampará-los e colocá-los no caminho reto, para que reconheçam muitas vezes os erros cometidos e que se desviem do errado, porém, sempre respeitando a decisão tomada.

Muitas vezes nas palavras duras dos Caboclos, na serenidade e bondade dos Pretos Velhos, nas brincadeiras das Crianças, somos direcionados à reflexão de nossos atos e o entendimento do porque passamos tais situações, nos direcionando em busca de nossa felicidade.

Nas gargalhadas dos Exus, no bom humor dos Baianos, na sabedoria do Boiadeiros, na gentileza dos Ciganos, vamos ouvindo as duras verdades, os bons conselhos, e, a partir daí, muitas vezes passamos a visualizar um novo caminho a seguir, um novo amanhã, certamente com obstáculos mas com força para superá-los.

Essas Entidades somente conseguem realizar suas tarefas, cumprindo seus compromissos espirituais por terem as bênçãos de Deus, e também, terem médiuns dedicados e com o compromisso junto ao mundo espiritual e com a Caridade

Uma das maiores provas de que Deus ama seus filhos é, justamente ter permitido que o mundo espiritual tenha condições de auxiliar os irmãos encarnados através da Umbanda, religião essa que, embora muito nova na terra, cada vez mais solidifica-se e executa as verdadeiras vontades e ensinamentos de Deus que são: Amar ao próximo como a ti mesmo e praticar o bem, não importando a quem.

Agradecemos a Deus por abençoar diuturnamente a Umbanda, suas Entidades e ao seu corpo mediúnico, confirmando assim que seu desejo está e continuará sendo cumprido.

Renato de Oxossi

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De Olhos Fechados


Marco Boeing – ASSEMA – Curitiba – PR

Sentado ali em frente de seu congá o velho pai de santo relembra com surpreendente nitidez sua infância e seu primeiro contato com espiritualidade.
Nitidamente ele se vê na tenra infância a brincar sozinho no amplo quintal da casa de seus pais.
Lembra-se que alguma coisa o fez olhar para as nuvens e diante dele uma estranha imagem se forma: um velho sentado ao redor de uma fogueira e um menino a ouvir-lhe estórias. De alguma maneira o menino ao ver aquela cena sabia que se tratava dele mesmo. O tempo passou e a cena jamais esquecida e também jamais revelada, o acompanha em sonhos e lembranças.
Cresce e acaba se tornando médium Umbandista. Aos poucos vai conhecendo seus guias, que vão tomando seu corpo nas diversas “giras de desenvolvimento”. Primeiro o Caboclo que lhe parece muito grande e forte, depois os demais… Até que, ao completar 18 anos, seu Exu também recebe permissão para incorporar.
Já não é mais médium de gira, a bem da verdade ocupa o cargo de pai pequeno do terreiro.
Percebe que não tivera uma adolescência como a da maioria dos jovens que lhe cercam na escola. Não vai a bailes, festas… Dedica-se com uma curiosidade e um amor cada vez maior à prática da caridade. Os anos passam e acaba pôr abrir seu próprio terreiro. Inúmeras pessoas procuram os seus guias e recebem um lenitivo, uma palavra de consolo e esperança.
Foram tantos os pedidos e tantos os trabalhos realizados que já perdera a conta. Viu inúmeras pessoas que declaravam amor eterno pela Umbanda e bastava que alguns pedidos não fossem alcançados na plenitude desejada que já se afastavam, criticando o que ontem lhes era sagrado…
Presenciou pessoas que, vindas de outras religiões, encontraram a paz dentro do terreiro, mantido a duras penas, uma vez que nada cobrava pelos trabalhos realizados (“Dai de graça o que de graças recebestes”).
Solteiro permanecia até hoje, pois embora tivesse tido várias mulheres que lhe foram caras, nenhuma delas agüentou ficar a seu lado, pois para ele a vida sacerdotal se impunha a qualquer outro tipo de relacionamento. Amava mesmo assim todas aquelas que lhe fizeram companhia em sua jornada terrena.
Brincava, o velho pai de santo, quando lhe perguntavam se era casado e respondia, bem humorado, que se casara muito cedo, ainda menino. A curiosidade dos interlocutores quanto ao nome da esposa era satisfeita com uma só palavra: Umbanda, este era o nome da esposa.
Com o passar do tempo, a idade foi chegando; muitos de seus filhos de fé seguiram seus destinos vindo eles também a abrirem suas casas de caridade. O peso da idade não o impede de receber suas entidades. Ainda ecoa, pelo velho e querido terreiro, o brado de seu Caboclo, o cachimbo do Preto-velho perfuma o ambiente, a gargalhada do Exu ainda impressiona, a alegria do Erê emociona a ele e a todos…
Enfim, sente-se útil ao trabalhar. Hoje não tem gira. O terreiro está limpo, as velas estão acessas e tudo parece normal. Resolve adentrar ao terreiro para passar o tempo, perdera a noção das horas. Apura os ouvidos e sente passos a seu redor, percebe que alguém puxa pontos e que o atabaque toca. Ele está de costas para todos e de frente para o congá. O cheiro da defumação invade suas narinas…
Seus olhos se enchem de lágrimas na mesma proporção que seu coração se enche de alegria. Estranhamente, não sente coragem ou vontade de olhar para trás, apenas canta junto os pontos. Fixa seus olhos nas imagens do altar, fecha os olhos e ainda assim vê nitidamente o congá, parece que percebe o movimento do terreiro aumentar.
Vira de costas para o congá e a cena o surpreende: vê Caboclos, Boiadeiros, Pretos Velhos, Marujos, Baianos, Erês e toda uma gama de Guias… Até Exus e Pomba Giras estão ali na porteira. Se dá conta que os vê como são, não estão incorporados. Todos lhes sorriem amavelmente.
Dentre tantos Guias, percebe aqueles que incorporam nele desde criança. Tenta bater cabeça em homenagem a eles, mas é impedido. O Caboclo, seu guia de frente, se adianta, lhe abraça, brada seu grito guerreiro… Os demais o aco Os demais o acompanham. O velho pai de santo não agüenta e chora emocionado… As lágrimas lhe turvam a vista. Fecha seus olhos e ao abri-los todos os guias ainda permanecem em seus lugares embora calados…
Nota uma luz brilhante em sua direção, Iansã e Omulu se aproximam, seu Caboclo os saúda e é correspondido. A luz o envolve completamente. Já não se sente mais velho. Na verdade sente-se jovem como nunca. Seu corpo está leve e ele levita em direção à luz. Todos os guias fazem reverência… O terreiro vai ficando longe envolto em luz… Ele sorri alegre… A missão estava cumprida…
No dia seguinte, encontram seu corpo aos pés do congá. Tinha nos lábios um sorriso…