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QUEM SÃO OS CAMBONOS DA UMBANDA?


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Quem frequenta as giras de Umbanda apenas como assistência, ou quem está iniciando seus trabalhos dentro de um terreiro de Umbanda, em geral não tem conhecimento do cabedal de fundamentos que alicerçam a segurança do que parece ser “apenas” mais uma gira, no dia a dia do calendário deste terreiro. Desconhecem que por traz do ritual aparentemente repetitivo, cada dia é o resultado de um combate contra as trevas, e na manutenção do Equilíbrio, nas Vibrações Elevadas, na correção de energias inadequadas que advém de cada um, oriundas das lutas diárias ao se conectar com este mundo de provas e expiações. Não têm ideia que um terreiro de Umbanda se transforma num dínamo energizado, cuja função é pulverizar todas as vibrações menos boas, todos os pensamentos impuros, todas as intenções rancorosas, todos estes miasmas que grudam como lama nos perispíritos dos encarnados quando não conseguem a manutenção da conexão com o Alto, o que é frequente, visto a baixa qualidade de nossa ambiência no cotidiano.

Entre a riqueza de conceitos que permeiam a religião umbandista, se encontram os cambonos, que passam despercebidos, e que na maioria das vezes são médiuns em desenvolvimento, que ali estão para aprender com as entidades, ou médiuns que não incorporam, mas qualquer cambono é muito importante na sustentação da corrente da casa, mantendo o padrão vibratório elevado por meio de pensamentos e sentimentos elevados.

O Cambono ou Cambone, é o médium que participa nas giras de assistências como auxiliar dos Guias em terra, podendo ser designado na hora dos trabalhos, pelo Primeiro Cambono, pela Ialorixá ou pela Iabá.

No livro “Umbanda sem Medo I ” vemos :

“A palavra “Cambono” é originária do termo: Kambondo; Kambono; Kambundu; que nada mais é do que um título consagrado aos homens que não entram em transe mediúnico, e são responsáveis por várias funções de alta confiabilidade nos Candomblés de Nação Congo Angola.

Portanto, esse termo já existia antes da anunciação da Umbanda e já era consagrado para definir um cargo auxiliar importante dentro dos culto-afros, sendo, posteriormente absorvido pelos umbandistas para definir os obreiros que auxiliam os Guias Espirituais nos trabalhos mediúnicos. Qualquer tipo de “cargo, atividade e/ou funções” dentro de um Terreiro umbandista tem como designativo o pré-nome: Cambono, seguido pela atividade que ocupa.”

a2O Cambono precisa conhecer a mediunidade e tudo o que diz respeito ao trabalho com a espiritualidade. Deve ter grande firmeza de pensamento e sentimento a fim de evitar desequilíbrios emocionais e espirituais que poderiam pôr a perder a segurança do trabalho. Não pode ter qualquer tipo de preconceito. Ele não está ali para julgar ou criticar os casos que tem a oportunidade de observar, mas para colaborar para que sejam solucionados da melhor forma, de acordo com a sabedoria e a justiça de Deus. E nunca deve relatar ou comentar, dentro ou fora da casa, as informações que ouve, os problemas dos quais fica sabendo e os casos que vê nos trabalhos de que participa.

O Cambono tem ainda como responsabilidade, cuidar dos apetrechos do Guia, buscando garantir a organização dos objetos e a conservação e limpeza do ambiente (uso de cinzeiros, copos, etc) bem como guardando nos lugares corretos os objetos emprestados pela Casa Espiritual (pemba, prancheta, etc). Outra responsabilidade sua é a anotação, bem legível, e correta das orientações do Guia, bem como do material que for solicitado.

É importante a conscientização do Cambone em aproveitar todas as oportunidades de reflexão e crescimento, pois acompanhando diversos atendimentos, e sempre pensando naquilo que também lhe diz respeito, obterá muitas reflexões produtivas ao seu crescimento espiritual. Deve sempre manifestar boa vontade, bom humor, disponibilidade em ajudar e resolver os problemas ao redor, além de exercer sempre a caridade com humildade, nas palavras, e nos atos. A função de Cambono é uma grande oportunidade de crescimento espiritual e deve ser aproveitado, pois o aprendizado irá enrijecer o caráter, melhorar seu padrão magnético e vibratório e permitir que mantenha as vibrações equilibradas e fortes, evitando assim a quebra da corrente fluídica.

Quando se fala na importância do Cambono na manutenção da corrente fluídica do terreiro, estamos falando de algo que é de responsabilidade de todos: médiuns os chefes de terreiro, a assistência, assim como os cambonos. Mas são os cambonos que chamam atenção quando ocorre alguma situação que possa quebrar esta corrente, o que pode permitir a entrada de forças trevosas com consequências desagradáveis para o terreiro. Você já deve ter ouvido alguém chamar atenção desta forma: “Olha a corrente, gente! Vamos concentrar”!

Quando se chama atenção para a corrente, é porque pode estar havendo diminuição da energia ambiental, ligada à egrégora, que deve ser mantida durante todo o tempo pelos médiuns, em potencial elevado, através de pensamentos positivos, silencio e prece.
Uma Egrégora provém do grego “egrégoroi” e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. É o envolvimento, clima envolvente, estado de Espírito resultante de fatores externos e internos. Quando um grupo de pessoas se reúne em meditação e oração com um objetivo comum, pela união do amor e da vontade é criada uma forma pensamento. Essa forma pensamento coletiva é formada pela vontade dos encarnados e desencarnados, movida pela intenção. Baseada na Grande Lei de que cada pensamento/sentimento, cada intenção, quando aliada ao desejo sincero transmite uma força dinâmica separada do ser que a forma e a envia, formamos um grupo de meditação e oração para podermos juntos emitir pensamentos saudáveis de amor e paz, conduzidos no plano astral pelos Anjos, Orixás, Guias Espirituais, Santos, etc., canalizados para um bem comum.

Este pensamento coletivo movido para o Bem, e sustentado pelas Entidade Espirituais iluminadas que protegem cada terreiro, pode atrair cada vez mais forças positivas, beneficiando a todos que ali se encontram, através da resolução de problemas físicos, morais, mentais e emocionais. Quando a egrégora formada é poderosa, só o bem e Luz atuam. Se uma entidade inferior for atraída para dentro da egrégora, ela fica de certa forma subjugada pela força desta e desse modo se consegue lhes dar um melhor encaminhamento para outros planos espirituais.
Porém, se a corrente fluídica é adulterada com pensamentos frívolos, maus, de vingança, despeito, cobiça,inveja ou ciúme, também entidades afinizadas com pensamentos de baixa vibração serão atraídos, diminuindo muito o padrão energético e a possibilidade de auxílio de uma gira.

É também papel do Cambono convidar os assistentes, de forma particular ou coletiva, a se manterem com o pensamento elevado, firmes, evitando burburinhos, e conversas fúteis, que podem levar à distração e pensamentos não condizentes com a vibração adequada. Se a corrente fluídica da gira não for suficiente, a egrégora não será convenientemente fortalecida e várias complicações podem acontecer com o passar do tempo, sendo que, o(a) dirigente, por ser o centro maior das atenções e para quem convergem as maiores quantidades de energia ali geradas e mesmo as trazidas pelos assistentes, é quem sofre, por assim dizer, as maiores consequências dos trabalhos realizados sem a devida segurança, mas estas consequências podem reverberar também nos médiuns trabalhadores da casa.

Algumas complicações geradas pela quebra da corrente fluídica são por exemplo: médiuns não conectados positivamente com suas entidades de guarda, o que pode provocar incorporações insatisfatórias e animismo; Perturbações advindas por entidades do astral inferior; manifestações muito turbulentas que podem colocar em risco o físico dos médiuns; extremo cansaço do dirigente e dos médiuns de trabalho, pela grande perda energética sofrida.

O normal é que ao fim dos trabalha todos estejam bem, quando a egrégora está harmonizada e fortalecida e bem conectada com vibração das entidades elevadas, responsáveis pela proteção da casa.

Ainda sobre a egrégora de Terreiros de Umbanda, é preciso que se explique que ela, além de ser formada e nutrida com a energia gerada em cada reunião, também é favorecida pelas “firmezas” ou “assentamentos” que devem ser tratados, reforçados e respeitados.

Os Cambonos então, participam de todos os momentos onde se é necessária a formação, sustentação e manutenção desta corrente fluídica e mediúnica que permeia todos os espaços físico e espiritual de um terreiro de Umbanda, e ao mesmo tempo que auxiliam, estão sendo ajudados, aumentando seus conhecimentos através das palavras carinhosas dos Pretos Velhos e da sabedoria e grande proteção dos Caboclos e Crianças.

Saravá então à coroa dos Cambonos, que eles sempre tenham consciência de seu trabalho, a responsabilidade para cumprir seu papel e prosseguir sempre.
Alex de Oxóssi
http://www.rbrj.com.br

SALVE A JUREMA SAGRADA!


(O culto da Jurema na Paraíba)


Marinaldo José da Silva e Maria Ignez Novais Ayala
– Universidade Federal da Paraíba


Seu Zé de Nana meu nêgo
Você não é camarada
No meio de tanta moça
Roubou minha namorada

O que é que eu faço da vida
Par Paraíba eu não vou
A namorada que eu tinha
Seu Zé de Nana roubou



“Salve a Jurema Sagrada, salve eu, salve vói, salve minha tronqueira e salve minha cachaça, salve meu cachimbo e salve minhas encruza! E quem pode mais do que Deus? Só Deus e mais ninguém, né nêgo? Agora me daí meu chapéu, meu cachimbo e minha cachaça par eu molhar a guela e dançar aquele coco com uma nêga bem boa!”


O pau pendeu não caiu
Zé de Nana chegou
E ninguém viu

É característico dos Mestres juremeiros quando chegam em terra saudarem a Jurema Sagrada, a sua tronqueria1, e tudo que a eles pertence e a Deus. E pedem para cantar o seu ponto, que pode ser um coco ou não.

No universo da literatura oral, a própria criação se nutre da imaginação que se ancora na realidade daqueles que fazem da cultura popular uma circundante poética onde transitam mitos, narrativas, religiões e vários costumes afro-brasileiros. São evidentes as marcas da diáspora negra nessas variações populares, cabendo à Jurema e ao coco, elementos de estudo deste trabalho, a contemplação do afro-brasileiro-mágico-religioso, considerados fazedores de cultura. É no sentido de “trânsito” entre as atividades diversas pertencentes ao mundo da oralidade que nos propusemos a mostrar os vários pontos em comum da Jurema Sagrada e do coco de roda.

O caráter religioso desta dança tem despertado nossa atenção, levando-nos, inicialmente, a reunir os cocos que se referem a santos católicos e às práticas do catolicismo popular. Recentemente, em meio a uma das religiões brasileiras, que tem muitos adeptos na Paraíba – a Jurema Sagrada ” encontramos vários cocos, que aparecem como pontos de gira. A Jurema Sagrada é um dos vários cultos com fortes marcas indígenas que se mesclam com traços do catolicismo popular, do espiritismo e das religiões negras do Brasil ” candomblé e Umbanda.

Difícil dizer hoje a origem ou o que predomina nesse culto afro-brasileiro, fundamentado em ervas, raízes e casacas de árvore usadas com função mágica para acura ou para afastar males e recuperar as energias dos fiéis e de todos aqueles que procuram o auxílio dos Mestres juremeiros. Muitas vezes essas ervas são utilizadas em forma de fumo, que serve para a defumação da casa, e de amaci, fusão de ervas que serve para o batismo do iniciado na Jurema, além da semente e do vinho extraído da árvore sagrada num sentido mágico-religioso.

Nos estudos que compõem a bibliografia sobre as religiões afro-brasileiras, são muitos os títulos dedicados ao candomblé, ao catimbó, ao xangô e à Umbanda; aparecem referências à Jurema como uma linha da Umbanda. O culto da Jurema era elemento principal do catimbó, conforme os estudos de Câmara Cascudo, Roger Bastide e Oneyda Alvarenga. Essa última publicou em 1949 Catimbó, a partir da bibliografia então existente e da farta documentação reunida em 1938, pela Missão de Pesquisas Folclóricas, da Discoteca Municipal de São Paulo, por meio da pesquisa de campo no Nordeste.

Na década de 30 houve grande perseguição policial aos catimbós e aos catimbozeiros, com prisões, fechamento, destruição das casas e apreensão de objetos utilizados no culto. Até hoje, os termos catimbó e catimbozeiro têm conotação pejorativa no Nordeste, comportando forte carga de preconceito.

Na Paraíba, atualmente, o culto da Jurema se encontra ajustado à Umbanda. Nas casas por nós visitadas, as cerimônias ocorrem no mesmo salão em que são desenvolvidos os cultos aos orixás da Umbanda, diferindo apenas os pejis e as camarinhas, ou em espaço contíguo, dedicado exclusivamente à Jurema.

Como linha da Umbanda ou como culto independente que se abriga no mesmo teto, mas que reconhece Alhandra como a cidade da Paraíba tida como local de onde se irradiou o ritual religioso, a Jurema tem muitos adeptos que ressaltam os poderes de cura dos Mestres juremeiros.

Além da cidade de Alhandra, existe a “cidade encantada de Tambaba”, local de muitos mistérios dos senhores Mestres encantados. Citando René Vandezande:

“A tradição diz unanimemente que no alto da praia de Tambaba houve uma Cidade da Jurema de igual nome, anos passados: porém, esta cidade foi “devorada” pelo mar, e de lá teria origem o culto que ainda hoje os juremeiros prestam ocasionalmente nesta praia. Una juremeiros que foram lá em nossa companhia demonstraram o máximo respeito para o lugar. Diversas vezes fomos a essa praia solitária, encontrando, cada vez, objetos de culto e velas. O barulho que as ondas produzem nas rochas de formas fantásticas é interpretado como a voz dos Mestres.” 2

E hoje Tambaba é uma praia de nudismo muito visitada pelos turistas.

Mestres são as entidades principais desse culto que aparecem nas sessões semanais das casas destinadas à Jurema e nas festas periódicas dedicadas a eles. São Exus, índios, caboclos, reis de iorubá, caboquinhas de pena, boiadeiros, baianas, pretos velhos, marinheiros, pescadores e também ciganas, Pomba-gira, Zé Pelintra, Maria Padilha e toda sua companhia. E como se não bastasse, a Cumade Fulozinha e a figura do cangaceiro, Também personagens das narrativas e contos populares, transitando na Jurema Sagrada. Segundo a fala de um dos depoentes umbandistas: “Cumade Fulozinha é uma identidade muito perigosa: ela tanto trabalha pro bem, como trabalha pro mal.”

Todos animadíssimos com seus pontos cantados e com o som dos elus, gaitas e maracás, a cachaça, o vinho da Jurema e a fumaça dos cachimbos de Jurema ou de angico, de um ou de sete canudos de fumaça (e em raros casos de charutos), constantemente fumados ao contrário, com o lado da brasa dentro da boca.

A Jurema tem vários tipos de ritual: Jurema de chão, Jurema traçada, Jurema de meia-noite armada.

A Jurema de chão é um ritual em que os juremeiros ficam sentados no chão em frente ao gongá (altar de Jurema) com imagens de Mestres , índios, pretos-velhos, caboclos e até mesmo Padre Cícero. A tronqueira do mestre da casa com um cachimbo de sete-fumaças, uma cumbuca com fumo de várias ervas: alecrim do campo, liamba, erva-doce, fumo-de-rolo, abre-caminho; e muitos cachimbos. Invocam as entidades para darem passes e fazerem consultas. Nessa sessão também são invocadas, sem obedecer a uma seqüência, todas as entidades ao mesmo tempo e pode Ter batuque dos elus (tambores) ou não. Há ponto cantado. A Jurema de meia-noite armada ocorre realmente à meia-noite, também no chão; é arriada no centro do terreiro a tronqueira do mestre da casa, que é responsável pela sessão; jarros com ervas da Jurema (pinhão roxo, comigo-ninguém-pode, pé da felicidade, aroeira), sete qualidades de cachaça, champanha, vinho tinto, vinho branco, cerveja, mel, uma garrafada de Jurema “preparada”, um cruzeiro de velas brancas, alguidares com frutas, três alguidares com fumos preparados (fumo de queda, fumo de descarrego e fumo de levanta), cachimbos cruzados, charutos e cigarros, palitos de fósforo cruzados, velas coloridas cruzadas e uma garrafa de plástico com Jurema para passar no corpo como descarrego.

Nessa Jurema não há elu, pois é apenas cantada para a realização de “trabalhos” em hora grande, horário especial dos Mestres fazerem as coisas funcionarem melhor, com mais força, pois só com o canto e a concentração no silêncio da madrugada fazem render resultados positivos, trabalhando com o que eles mais gostam: cachaça, cachimbo e os cocos ” daqui e de lá do outro mundo.


Mas eu pisei na rama
A rama estremeceu
Não beba dessa água, oi morena
Quem bebeu morreu

Esse coco é meu
É da Paraíba
É de Catolé
É de macaíba

Meu avião de alumínio
Que voa de norte a sul
Mulher que rapa o cangote
Do céu não vê o azul

Ô Lili, minha Lili
A mulher que eu mais amava
Nas tranças dos seus cabelos
Aonde eu me balançava

Ganham sentido de pontos cantados, louvações e orações. Cocos que remetem a vários sentidos além do “sagrado” e da “brincadeira”, que se fundem independentemente de temas específicos para prenunciar a alegria e a força do trabalho na Jurema encantada.

Nos próprios pontos cantados de Jurema, podemos perceber vários elementos informativos do culto, encontrados em uma das Juremas da Torre:


Era uma mesa branca
Toda enfeitada de flores
E hoje é uma tenda de Jurema
De paz, de luz e de amor
(…)3

Zum, zum, zum ô Jurema
Vamo trabalhar ô Jurema
Desmanchar macumba ô Jurema
Catimbó e azar ô Jurema4

Jurema minha Jurema
Meu tesouro rico
E olha o tombo da Jurema
Que ela vale ouro
(…)5

A Jurema é minha madrinha
Jesus é o meu protetor
A Jurema é pau sagrado
Deu sombra a Nosso Senhor6


NA PANCADA DOS COCOS

Os instrumentos da Jurema são basicamente os mesmos da brincadeira do coco. Os instrumentos utilizados são todos de percussão. Na brincadeira é usado um zabumba e na Jurema um elu, tocado pelo ogã. Ambos são cobertos por um couro de bode, existindo uma pequena diferença no zabumba, que é coberto por dois couros: um couro de bode e outro de “boda”.

Nos rituais de Jurema, o mestre aceita qualquer batida do elu; o mais importante é o coco cantado, que tem força para “seus trabalho”, com sua cachaça e com suas namoradas. Ainda temos o ganzá, que está presente nas duas manifestações, muitas vezes improvisado com uma lata vazia, com pedrinhas ou sementes dentro. Maracás, espécie de chocalho, com som semelhante ao do ganzá, também fazem parte. O triângulo, instrumento apenas da Jurema tem o formato correspondente ao nome, feito artesanalmente, a partir de restos de ferros utilizados na construção civil, batido com um bastão do mesmo material. Também pode aparecer gaitas feitas de bambu, semelhantes a uma pequena flauta, como asa tocadas pelos participantes das tribos indígenas do carnaval.

Os pontos são acompanhados por palmas e batidas de pés. O espaço para o ritual tanto pode ser fechado (o interior dos terreiros), quanto aberto (a rua, a encruzilhada, o mato).

Os cocos cantados como pontos de Jurema foram encontrados em espaços abertos e fechados, nos diferentes tipos de ritual. Também encontramos o que parece ser ponto de Umbanda ou Jurema, cantado como coco em festas de São João nas ruas do bairro da Torre. Os limites da cultura popular são muito tênues.

No bairro da Torre, em João Pessoa (PB), são encontradas muitas casa de Umbanda e Jurema. O bairro também se caracteriza pela riqueza de manifestações populares, dentre as quais a malhação de Judas em várias ruas, palhoças e quadrilhas, cocos e cirandas, blocos de carnaval, tribos (o nome que se dá na Paraíba à dança conhecida como caboclinhos em Pernambuco), escolas de samba.

Em 1938, integrantes da MPF (Missão de Pesquisas Folclóricas), fizeram diferentes registros da cultuar popular na então Torrelândia: narrativas populares, sessões de catimbó, tribo dos índios africanos, barca.

Em vista desses argumentos mencionados, vimos através das manifestações populares afro-brasileiras, a presença de vários cocos de roda cantados como canto religioso no sentido de trânsito entre atividades diversas pertencentes ao grande universo da literatura oral.

E salve a Jurema Sagrada!


NOTAS

1. Parte de um tronco de Jurema aonde fica “assentado” o mestre. Morada do mestre.

2. VANDEZANDE, René. Catimbó. Pesquisa exploratória sobre uma forma de religião mediúnica. Recife: PIMES do IFCH da UFPE, 1975, p.44. Apud CABRAL, Elisa Maria. A Jurema Sagrada. João Pessoa: PPGS-UFPB, 1997, p.23-24.

3. Lembranças da mesa branca do espiritismo

4. Desfeitura de trabalhos pesados

5. Mistérios e encantos da Jurema

6. Sobre a árvore sagrada

DESCONHEÇO O AUTOR E AS FONTES PESQUISADAS

(Este texto foi baixado no e-mule)