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FOLIA, EXUS, POMBAGIRAS, MALANDROS E MALANDRAS – CURTA COM MODERAÇÃO E RESPEITO


No carnaval, ainda há o resquício de simpatiquíssimas práticas que ainda hoje são seguidas. Na antiga Grécia, haviam as festas pelas vitórias das guerras, e acreditavam que deviam reverenciar ao deus Dionísio (Baco, para os romanos).  Continue Lendo

AS MOÇAS


AS MOÇAS

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Imagem retirada do Google Imagens

Esta é uma história de trabalho conjunto de Pombogiras de diferentes falanges. Dizem que Dona Mulambo e Dona Maria Padilha não se dão, mas quando atuam espíritos de Luz, não há quizilas. Quando o objetivo é o trabalho de Amor e Auxílio aos que sofrem, estas entidades se dão as mãos, unem forças para apaziguar as intempéries provocadas pelas trevas tenebrosas.

Nossa história se inicia em uma cidadezinha qualquer de nosso imenso Brasil. Vamos dar o nome fictício de Rosangela para começar. Rosangela era uma moça simples, que com dificuldade e esforço chegou à idade adulta, com um trabalho digno e uma vida pacata. Sua vida nunca lhe cobrava muito e assim ela vivia em torno de sua família, um pouco desorganizada, e devido a isso, cresceu sem maiores atenções.

Seus amigos e seu noivo eram a razão maior de seus dias. Até que a perfídia surgiu inopinadamente. Um daqueles amigos, deleitando-se com a má notícia, correu a lhe contar que o noivo a traía. Impulsivamente, Rosângela foi ao local de trabalho da rival e a agrediu violentamente, não querendo sequer escutar qualquer desculpa do noivo faltoso.

Para ela, seu mundo desabou em horas, perdeu seu centro, seu esteio e mesmo seu equilíbrio mental. Ela sequer sonhava, no entanto, que havia chegado o momento de seu resgate espiritual, de erros cometidos em distante passado, quando cometera atrocidades contra os espíritos do noivo e daquela que agora lhe causava tanto sofrimento. Os algozes, fruto do ódio secular ali estavam cobrando, e diante do desequilíbrio acharam terreno fácil para sua vingança.

Rosangela passou a ter alucinações, voltando a eras antigas, achando que se vestia de sedas e bordados, ostentava jóias e adereços de ouro, sobre a pele clara como a neve, cabelos claros como o trigo e os olhos verdes como a esmeralda.

Porém, na verdade, ela se despia e seus trapos eram confundidos com as vestes ricas em sua ilusão. Ao notar os olhares das pessoas, parte de seu espírito adoentado se envaidecia como na época da corte, quando atraía todos os olhares, mas ao escutar as palavras de baixo calão e intenções maliciosas, a porção de sua mente ainda não colapsada lhe tirava a segurança e ela se enchia de vergonha e tristeza.

Oscilando entre o embotamento e as atitudes maníacas, passou a viver suas horas nebulosas neste limbo entre a loucura e a realidade fracassada, cada vez piorava mais.

Certo dia acabou chegando a um local à beira da estrada, e ali, ao pedir algum alimento, mesmo escutando chacotas por sua aparência, notou que havia pessoas boas e passou a ali voltar esporadicamente.

Não sabia, nem sequer sonhava, que para ali tinha sido conduzida por espíritos amigos, para que tivesse oportunidade de um descanso dos incessantes obsessores.

Foi ali que as três moças do Astral se encontraram. Dona Mulambo do cemitério, Dona Maira Padilha das Almas e Ciganinha das Estradas. Uniram-se, com a autorização da Espiritualidade Superior e afugentaram grande parte dos espíritos obsessores, pérfidos e galhofeiros, dando certo alento e alívio à enferma da alma.

As três maravilhosas entidades, cada uma com sua natureza, Dona Mulambo do Cemitério com a força aurida de seu Omulu, lhe aplicou fluidos benéficos para atenuar os sintomas de sua doença mental. Doma Maria Padilha das Almas, focou em seu coração, para atenuar seu sofrimento moral de ter perdido a convivência com aquele que tanto havia amado. E a Ciganinha da Estrada tomou-lhe a mão, para que ela reencontrasse o caminho de casa, e durante o trajeto, as três forças conjuntas estariam agindo como um bálsamo para seu resgate.

Nada posso afirmar se Rosangela recuperou a sanidade, voltou para casa e conseguiu recomeçar sua vida sob novos prismas, mas esta história foi sobretudo o relato do trabalho constante e incansável destes espíritos luminosos, que optaram por ficar entre nós, estas amigas, companheiras, as Pombogiras da Umbanda, que cada vez mais se aformoseiam e nos ensinam pelas boas obras, por seu Amor Incondicional.

Alex de Oxóssi
Rio Bonito – RJ

Autodefesa e Proteção contra Energias Negativas e Maléficas


Omolubá

A maioria de nós vive uma vida cheia de problemas angustiantes e atormentada por situações confusas e complicadas que tanto nos fazem sofrer.

Além dos conflitos com os outros (o marido, a mulher, o patrão, o empregado, o colega…) e das ameaças que recebemos de todos os lados, a simples preocupação com as doenças, com o aperto financeiro, etc. , assim como, também o medo da inveja, das traições e todas as formas de agressão de que podemos ser vítimas – tudo isso produz em nós uma tremenda perda de energia, física e psíquica.

Essa é a causa do estresse em que inevitavelmente caímos.

São esses “buracos” na camada áurida e na sinergia orgânica e psíquica que nos tornam vulneráveis às influências maléficas que impregnam a atmosfera psíquica do nosso planeta – especialmente em certos locais e regiões.

E sem saber e sem querer, acabamos mensageiros e agentes de toda essa miséria humana, resultante do generalizado viver egocêntrico- miséria individual e coletiva.

Na maioria das vezes, nem sabemos como nos proteger contra tudo isso e tornamo-nos alvos fáceis de toda espécie de fluidos negativos (emoções e pensamentos malignos) que circundam em torno de nós e, o que é pior, que emanam também de nós.

O objetivo deste capítulo é justamente alertar você, cara leitora ou leitor. Sobre toda essa realidade oculta e fornecer elementos que o ajudem a tornar as precauções necessárias para se defender.

“Mas o que podemos fazer para nossa autodefesa?” é o que você naturalmente me perguntará.

E a resposta simples e direta é esta: cuidar do corpo.

Desse modo, em vez de aumentarmos a desordem, os conflitos e a maldade que saturam a atmosfera psíquica da sociedade em que vivemos, podemos contribuir para nos harmonia que concorram para limpar e purificar o ambiente de todos nós.

Mas, para cuidar do corpo, nesse sentido particular, precisamos saber que, na realidade, não somos um corpo, mas temos um corpo.

E, na verdade, não temos só um corpo, mas três corpos que se interligam tão profundamente, que formam uma unidade, que funcionam como um só:

– o corpo físico – com sua contrapartida etérica;
– o corpo emocional ( ou “astral”) – das emoções, dos sentimentos, etc.
– o corpo mental – dos pensamentos.

E o que se passa em um repercute inevitavelmente nos outros.

Daí a importância de aprendermos a lidar com cada um deles indistintamente e com todos eles em conjunto.

No momento em que sentimos harmonia e paz interior, começamos a criar vibrações capazes de, pelo menos, neutralizar, de alguma forma, o clima de perversão, violência e crueldade que empesta o mundo dos pensamentos e das emoções da sociedade em que vivemos.

É assim que podemos trabalhar por um mundo melhor.

Sua autodefesa e proteção psíquica estão apoiadas nos seguintes procedimentos:

1- Banhos de “descarrego” e vitalização;
2- Defumações de “descarrego” e energização;
(…)

A criatura humana é constituída de três corpos: o corpo físico e etérico (sendo que este último sobressai 5 cm ao primeiro, formando a aura em torno do corpo físico), o corpo emocional ou astral,localizado no coração, e o corpo mental, sediado no cérebro.

Todos os malefícios dirigidos a alguém, até mesmo por meio de um olhar carregado de raiva, desprezo ou inveja, causam distúrbios psíquicos temporários, como : mal estar, enjôo, sonolência, nervosismo, pequenas desavenças sem justa causa com pessoas conhecidas ou não, desânimo e entorpecimento corporal.

Já os “trabalhos de magia” ocasionam, via de regra: dores de cabeça, brigas familiares, afastamento entre parentes, amigos e sócios, perda inexplicável de emprego, maus negóocios, impotência sexual, separações amorosas, acidentes de carro, conflitos no relacionamento em geral, perda da saúde e outras anormalidades que subvertem a rotina vivencial e a alegria de viver de uma criatura comum.

Tecnicamente, o processo é sempre o mesmo: a energia inferior, negativa, virulenta, atinge primeiro o duplo etérico da pessoa visada, segue adiante e contagia o corpo astral que devolve imediatamente a negatividade para o corpo físico, provocando disfunções orgânicas e emocionais. Em alguns casos, proporcional à “força do trabalho” executado, a energia lodosa assedia diretamente o corpo mental, produzindo mórbido bloqueio da tela neuronal do cérebro, impedindo, daí por diante, o raciocínio e a concatenação dos pensamentos sadios que até poderiam dar solução sensata e adequada à agressão oculta e covarde. Enquanto isso, acumulam-se os males e os problemas decorrentes da perda da saúde sem causa aparente, levando, de roldão, a vítima ao desespero, inconformação aos familiares e tirando a expectativa dos amigos e conhecidos.

Em alguns casos, e não são poucos, a perversidade completa-se com a morte trágica do enfeitiçado, tragado impiedosamente pelas energias deletéricas a seviço de alguma personalidade inimiga, sorrateira e cruel.

1. Banhos de descarrego e vitalização

A finalidade precípua do “banho de descarrego” é limpar, higienizar única e exclusivamente o corpo etérico do indivíduo, retirando sujeira, nódoas e larvas astrais que não são vistas pelo olho físico do homem comum, sendo, contudo, evidentes e visíveis ao sensitivo treinado e capaz.

Antes de tomar o “banho de descarrego”, torna-se necessário, em primeiro lugar, o banho físico, incluindo a cabeça. Esse banho, deve ser com sabão neutro à base de glicerina. Essa limpeza deve ser feita no quarto minguante. Em casos de urgência, na lua nova, nunca porém, em outras fases da lua.


Descarrego

O “banho de descarrego” deve ser realizado com água morna da cabeça aos pés, seja um simples banho de sal grosso, seja de ervas específicas para essa operação. Aqui vão algumas plantas verdes, fáceis de encontrar com os mateiros ou nas casas do ramo: folha de pitanga, desata-nó, vence demanda, catinga de mulata, cordão –de-frade, velame, acácia, amendoeira, vassourinha-do-campo, vassourinha-de-relógio, guiné-pio-pio, aroeira e outras tantas do mesmo teor, próprias para o expurgo etérico.

Não é necessário usar mais do que duas ervas em cada banho. Pode-se, também, adicionar um punhado de sal grosso, capacidade para cinco a sete litros dágua, ali permanecendo por cinco horas. Ao banhar-se, acrescentar um pouco de água quente. Após o banho, o paciente não deve enxugar-se. Beber alguns copos de suco de fruta natural ou leite morno, sem açúcar nem adoçante. Para completar, procurar o leito por algumas horas ou dormir até o dia seguinte.

Vitalização

O “banho de vitalização” só deve ser tomado uma ou duas semanas após o “banho de descarrego”. Usa-se também escolher duas ervas dentre as diversas que logo adiante indicaremos para esse fim. Queremos ressaltar, contudo, que esse banho só traz efeito salutar quando realizado no quarto crescente ou na lua cheia, para que haja a devida absorção e elevação do tônus vital dos três corpos.

É preferível que essa operação seja realizada à noite.

Queremos enfatizar que o “banho de vitalização” só deve ser tomado após o “banho de descarrego”; caso contrário, não terá qualquer efeito; será ineficaz e até incoveniente. É como usar perfume em corpo suado e sujo; vira catinga. Torna-se também necessário o banho normal com sabão neutro antes de qualquer banho ritualístico.

Eis algumas ervas verdes, próprias para a vitalização físico-etéreo-astral-mental: manjericão, alevante, colônia, folha e flor de girassol, folhas e amêndoas do cacaueiro, iburana, sálvia,dracena, oriri, jásmim, espada-de-ogum, espada-de-iansã (borda amarela), açoita-cavalos, umbaúba-prateada, entre outras. Que sejam usadas verdes e não secas.

Observar o mesmo rito do banho anterior: ervas maceradas durante cinco horas; no momento do banho, adicionar um ou dois litros de água quente; banhar, lentamente, todo o corpo, da cabeça aos pés; mentalizar a ação vivificante da água; não enxugar o corpo e, finalmente, após ingerir alguns copos de suco de furta natural ou leite morno, sem açúcar nem adoçante, descansar e dormir.

Com a maceração das folhas destinadas ao banho, a água se torna esverdeada e um tanto pesada. Após o preparo do banho, as folhas trituradas devem ser retiradas, embrulhadas e jogadas no lixo no dia seguinte.

2. Defumações – Descarregos e energização

A defumação consiste na queima de sementes, raízes, folhas, cascas secas e outros elementos que se desintegram na queima sobre carvões em vasilhame próprio.

A defumação de “descarrego” pode ser efetuada em todas as fases da lua, portanto, diferente de outros atos ritualísticos ou higienizantes. O fogo, ao ar e a terra são elementos que contribuem para a “limpeza” dos fluidos agressivos que existem não só no ambiente etérico-físico, como também na aura das criaturas humanas, e até mesmo, na dos animais de estimação.

A concentração energética dos vegetais se expande e sutiliza em ondas odoríferas pela combustão, destruindo larvas e nódoas astrais que ficam agarradas nos tetos, paredes, cantos, móveis, tapetes,etc. do ambiente contaminado, assim como também, na contraparte etérica do corpo humano.

Segue, para o leitor, a receita de um “defumador de limpeza”, cujo preparo está ao alcance de todos. Serve para residência ou estabelecimento comercial. Evidentemente que serve, também, para você mesmo ou para alguém necessitado de tal providência.

Ingredientes:

Casca de alho – 8 punhados
Casca de limão seco – 6 punhados
Cânfora- 6 tabletes( ou 4 punhados esfarinhados)
Incenso – 10 punhados
Casca de fumo de rolo – 6 punhados
Folha seca de amendoeira – 10 punhados ( triturados)
Enxofre- 2 punhaos ( esfarinhados)

Como proceder:

Junte e misture tudo. Essa porção serve para um ambiente de cinco compartimentos. À medida que o carvão do turíbulo vai ardendo e queimando, adicionam-se punhados dessas substâncias em cima do braseiro.

Deixar um vasilhame com água em cada compartimento enquanto se processa a defumação. Outra providência sensata é ao gente da defumação usar chapéus ou um pano enrolado na cabeça para proteger os cabelos dos miasmas que caem, a roupa que estiver usando deverá ser considerada roupa suja após a defumação. A água das panelas que foram distribuídas pelos compartimentos deve ser “ despachada” em água corrente das pias ou pelo vaso sanitário.

O rescaldo do defumador deve ser apagado com a´gua, embrulhado e jogado no lixo. Depois da “defumação de descarrego”, o defumante deve beber de um a dois litros de suco de frutas. Não utilizar refrigerantes engarrafados, açúcar nem adoçante.

Energização

É necessário o uso de bons produtos no preparo do “defumador de energização”. As substâncias de natureza mineral e vegetal deverão possuir latência de energismo integrado em todos os sentidos. Apadrinhados pelo solo, água, ar e mais força energética do sol, na proporção adequada, propagarão suas propriedades específicas no braseiro, e dessa forma, encherão o ambiente (habitação ou loja) e a aura dos necessitados de energia radiante.

Essa defumação libera, pouco a pouco e com largueza, toda a potencialidade dessas substâncias envoltas na fumaça aromática. É ela que cria um clima agradável, saudável e cheio de energia, para o ambiente e para as criaturas envolvidas no enredo místico e benfajezo.

Após o “defumador de energização”, você se sentirá num estado de calma para enfrentar os embates do cotidiano, pejado de ambição, deslealdade e hipocrisia.

A fase lunar própria para esse tipo de defumação é o quarto crescente e a lua cheia.

Antes de passarmos para a receita do “defumador de energização”, convém alertarmos os usuários que tanto um ambiente físico como a aura humana só podem ser devidamente energizados ou vitalizados após duas ou três semanas da “defumação de descarrego”. Primeiro, “limpar”, depois, “energizar”, a fim de atrair fluidos de boa sorte e vitalidade psíquica.

Agora, uma receita simples, entre outras, mas de grande poder energético:

Casca ou bagaço de cana seco- 5 punhados (triturados)
Mirra e alecrim- 8 punhados
Folhas , flores e sementes de girassol – 6 punhados (triturados, de preferência, secas)
Folhas de eucalipto secas- 5 punhados
Cravo da índia e folhas secas de louro – 5 punhados
Almíscar ou âmbar – 4 punhados

Após a defumação de todo o ambiente, deixar o defumador queimam do por uns vinte minutos até o fim. Antes, durante e depois, beber bastante suco de fruta natural.

A validade da defumação desse tipo depende das circunstâncias ambientais. Num lar habitado por pessoas equilibradas, de boa índole, a validade é de até oito meses ou mais. Num estabelecimento comercial, não passa de quatro meses. Muito menos nos botequins e lugares onde haja consumo de álcool e prática de jogo. São pensamentos incontidos que ocasionam a sujeira do ambiente.

Retirado do Livro: “ Maria Molambo na Sombra e na Luz” – Omolubá

MARIA MOLAMBO


Omolubá

Foi no inicio do século XIX, pelos anos de 1818, época em que o Brasil caminhava para sua independência de Portugal e que, mesmo oficialmente elevado à “Categoria de Reino Unido”, mantinha no estilo de vida os costumes de colônia submissa, explorada, oprimida. Foi nesse tempo que nasceu em Alagoas, a filha dos Manhães, respeitada família de fazendeiros que viviam de criar gado na região próxima ao então vilarejo de Penedo.

Maria Rosa da Conceição – esse era seu nome – cresceu criada sob os arraigados moldes educacionais da ocasião. Quando moça feita o Brasil já se dizia independente: ela não era. Tinha nas mãos do pai o seu destino selado, como acontecia a tantos outros milhares de moças. Vigência comum eram os pactos de casamento, não entre os namorados, mas entre os que viam, nesse expediente, a forma de unir família, as consideradas poderosas e tradicionais, visando tão somente a interesses comerciais, territoriais e até políticos. Maria Rosa da Conceição não fugiria a esse destino quando, aos 19 anos de idade, foi prometida aos Cardins, na pessoa de Vicente, o filho.

Comum também parecia “o outro lado” dessa história. Maria Rosa, claro, não amava Vicente. Era Luciano, capataz da fazenda dos Manhães, o dono de seu coração, um viúvo, sem filhos, com quase o dobro de idade da moça. Empregado dedicado, servi a família mesmo em dias difíceis como os das secas que assolavam periodicamente o Nordeste. Luciano era homem de caráter inquestionável, dote que certamente não seria considerado pelo coronel Manhães, caso o capataz propusesse, oficialmente, casar com a filha do fazendeiro. Mas Luciano e Maria Rosa, fora do tempo e do espaço, estava perdidamente apaixonados.

Vivendo um romance clandestino, porém verdadeiro, viam aproximar – se o funesto dia do combinado casamento de Rosa com Vicente. O noivado de seis meses já se tinha expirado. A cada dia que passava menor eram as esperanças de solução. Em junho do ano de 1837, três meses antes da data marcada para a cerimônia nupcial, Maria Rosa e Luciano apelaram para única saída que lhes parecia possível – a fuga – e fugiram para as bandas de Pernambuco.

Essa foi a saída possível, mas não, honrosa, não para as famílias ofendidas nem para os costumes do povo. O escândalo ganhou fazendas, roçados, estradas e os sertões, desbravados pelos dois irmãos de Maria Rosa na tentativa de reavê – la e castigar um empregado que para eles se mostrara, agora, indigno de confiança, alem de detestável sedutor. Também para os Cardins a humilhação era sem precedentes! Todos eles exigiam reparação da honra da família, ultrajada por um homem considerado sem linhagem e de origem duvidosa. Afinal, que riquezas ou poderes tinha ele? De que família provinha? Talvez fosse um mestiço ou sabe –se lá mais o quê! Como se atrevera a tanto? Merecia castigo à altura de sei desvario. Quando a Maria Rosa, julgavam os Cardins que ela não havia recebido dos pais a devida educação, tanto que agira de maneira tão afrontosa quanto imoral. Vai daí que as duas famílias cortaram relações, unido – se apenas no firme propósito de encontrar e punir Luciano.

Durante três anos e seis meses, deu – se perseguição implacável e sem tréguas ao casal que, longe de fúria e do desejo de vingança dos seus e já com uma filha, encontrara nas terras do Coronel Aurino de Moura o seu recanto de felicidade – e onde, com a mesma dedicação, peculiar a seu caráter, Luciano também trabalhava como capataz.

Numa tarde quente de dezembro de 1840, quando despreocupado tratava no curral da fazenda, de um animal ferido, um bando cercou o local. Eram dois líderes brancos, negros, escravos, farejadores e capangas de aluguel. Sem qualquer explicação, mataram o animal a tiros e Luciano a facadas. Maria Rosa que, em casa, cuidava da filha, foi levada desacordada de volta a cidade de Penedo.

Voltar para casa em tais circunstâncias significava, naturalmente, enfrentar (quem sabe?) o ódio, mas, com certeza, a humilhação. E: apenas para isso Maria Rosa fora trazida. Após cuspir – lhe no resto, o pai expulsou – a, orgulho ferido e ouvidos fechados aos apelos dos dois filhos e da esposa, mãe sofrendo a reconhecer que a filha merecia castigo, mas, não, a renegarão. Rogos Vãos.

Ver – se entregue à própria sorte não a assustava. Mas sua filha pequena não pedira nem merecia o abandono e o repúdio familiar. E assim Maria Rosa julgou que recorrer ao abrigo de parentes poderia amenizar o sofrimento da menina. Com ela voltou a Pernambuco e, na cidade de Olinda, apelou para seus tios que, nem por isso, a trataram como sobrinha. Pelo contrário, sua condição de dependente e desvalida fez de Maria Rosa uma serviçal da família, a suportar, pelo bem da filha, novas humilhações.

Quem dera, porém, que tal martírio nisso apenas se resumisse!… Meses após ter chagado a Olinda, a vida de Maria Rosa toMaria novo curso ao ver seu filhinha morrer de varíola.

E Maria Rosa fugiu outra vez. Agora, sozinha. Seu amor, sequer estima ou consolo. Perdera tudo o que de mais importante e valioso tivera, prova carnal e espiritual do único amor de sua vida. Partiu para o caminho que, também desta vez, lhe parecia a única e desesperada solução possível: a prostituição.

Assim foi tocando seus dias de amargura no falso esplendor da noite boêmia. Sem demora, sua saúde foi sendo minada pela tuberculose e pelas doenças venéreas. Esquálida e tísica, mais uma vez passou a ser repudiava até pelas colegas da profissão chamada de “vida fácil”. Passou, então, a pedir esmolas pelas ruas. Nas suas andanças de extrema penúria, ficou dois anos em Recife, seguindo depois de cidade em cidade até chegar, de volta, à terra natal.

Quem peregrinava, então, pelas ruas de Penedo não era a bela jovem de outrora, mas uma mulher magra, precocemente envelhecida, abatida, marcada, dilacerada pelo sofrimento do corpo e da alma. Irreconhecível, foi logo “batizada” pelo escárnio popular como MARIA MOLAMBO. Encontram – na assim os dois irmãos, levaram – na para a fazenda distante algumas léguas da cidade e lhe deram a notícia da morte dos pais e da sua inclusão na herança dos Manhães, graças à intervenção da mãe, a ultima a falecer.

Maria Rosa recebeu dos irmãos, bem se diga, toda a assistência de que necessitava em razão da sua doença. Conseguiu, por isso, recuperar parte da saúde e dar início a uma nova vida, agora dedicada à comunidade, ajudando os carentes (que não eram poucos) abandonados e desabrigados, crianças, mulheres e ancião. Sua parte na herança ela destinou a esse trabalho anônimo e a um asilo já existente em Maceió, onde passou servindo todo o seu tempo de vigília.

Foi no ano de 1857 que Maria Rosa da Conceição faleceu. Recebida no plano astral por muitos conhecidos e parentes, àqueles a quem havia beneficiado em sua vida terrena continuou a ser, agora carinhosamente, chamada de Maria Molambo.

No ano de 1900, conheceu outra mulher de grande prestígio, Maria Padilha, cujo propósito principal era a luta pela igualdade dos sexos, inspirando decisivamente as líderes feministas do plano físico. Por influência dela, aceitou convite para integrar um novo movimento religioso ainda em organização no plano astral – denominado Umbanda – Passando a liderar milhares de criaturas. Constituiu, assim, a falange de Maria Molambo, trazendo inúmeros benefícios a encarnados e desencarnados da terra brasileira.

Retirado do Livro: Maria Molambo na Sombra e na Luz – Omolubá

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