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O QUE SÃO AS RELIGIÕES?


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Nos recentes acontecimentos que agitaram as opiniões sobre a veracidade das crenças afro-brasileiras, são visíveis alguns pontos.

Sabemos de antemão que as palavras que levaram à dissidia foram retiradas, porém há ainda o que se falar a respeito.

O primeiro ponto é que é notória a existência de frequentes ataques públicos contra a umbanda e o candomblé.

O segundo ponto foi observar que ainda há o desconhecimento que os adeptos da umbanda e candomblé as consideram religiões.

O terceiro ponto é a afirmação que uma religião tem que ter um texto-base que lhe caracterize. Podemos citar que Allan Kardec , que organizou o Pentateuco da Doutrina Espírita, não considerou o Espiritismo como religião, e sim como Filosofia, embora se remetendo a Deus, de forma que quem segue o Espiritismo , acredita estar seguindo uma religião e isto é respeitado por todos.

Quem estuda a Umbanda, busca na fonte de Zélio Fernandino de Moraes as verdades trazidas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, transcritas através de Leal de Souza, Mata e Silva, Benjamim Figueiredo, Cavalcante Bandeira,Emanuel Zespo, Lourenço Braga, Diamantino Trindade, Rivas Neto e mais recentemente Marco Boeing, Rubens Saraceni,Roger Feraudy, Norberto Peixoto e muitos, muitos outros escritos trazendo as bases, que são: crença reencarnacionista, busca da melhoria pessoal através da prática constante da Caridade, respeito às entidades representadas pelos pretos velhos, caboclos e crianças, fundamentos inalienáveis como o culto à Natureza e aos Orixás, e aos rituais sagrados que trazem alento, compreensão, fórmulas de Saúde e Paz e a busca do Amor, Igualdade, Liberdade e Solidariedade na Terra.

Embora sem ter os conhecimentos profundos necessários para o entendimento do Candomblé, tenho absoluta certeza que suas bases não escritas, são tão válidas quanto um livro escrito pelos homens, porque estão impressas no consciente coletivo dos adeptos, através de tradição oral, forma milenar de aprendizado e solidificação de cultura e crença.

O quarto ponto que gostaria de comentar é que independente de acreditarem ou não nas práticas afro-brasileiras, é importante que se faça uma análise, para que se verifique que hoje estão confundindo autenticidade nas palavras com falta de educação. Todo mundo quer ser autêntico, bate no peito e diz eu penso assim e acho isto ou aquilo, doa a quem doer. E dói realmente, palavras eivadas de preconceito e falta de visão sobre a verdade do próximo. Pois se cada um tem sua verdade, não é preciso usá-la como arma, sob o risco de cair na armadilha da grosseria, da indelicadeza, gerar uma ambiência belicosa que não traz nada de bom, pois invade o limite alheio e tem o potencial de gerar ações desequilibradas que terminam por atitudes destrutivas, como temos visto nos relatos policiais , das quebradeiras em templos, nas agressões a inocentes que querem apenas honrar seu Deus à sua maneira.

Para não me estender muito , tenho de citar o quinto e último ponto, que é refletir o que é se ter um a religião. Pois é muito fácil falar, sou católico, sou evangélico, sou umbandista, ou candomblecista, por exemplo. Mas quantos estão seguindo os preceitos e fundamentos, levando-os para fora dos templos e terreiros? De que adianta decorar livros de mil páginas, duas mil páginas e não se praticar uma linha? Quantos oram ao se levantas e ao dormir, agradecendo pelo seu dia, analisando suas ações e se propondo dia após dia melhorar-se? Quantos praticam com fé seus rituais, suas preces, e praticam integralmente aquilo que dizem que acreditam? Quantos verdadeiramente respeitam seu próximo isentos de antolhos e obstáculos ao entendimento e a compreensão?

Vejo muitas pragas lançadas, pedidos de amarração, solicitações de milagres, mágoas , revolta e raiva acumuladas, mas pouca firmeza ao se crer, ao se fazer, ao se construir.
Houve um equívoco, e ele ainda lá está, pois os vídeos agressivos praticamente subentendem passe livre para atos destrutivos.

Mas não é a Lei dos homens que deveria estar regendo isto, mas a consciência de cada um, de observar que o mundo não suporta mais tanta violência e desencontros e miséria moral. Se cada um fizer a sua parte, despido das vaidades , mazelas e ressentimentos verá muito claramente que a Verdade absoluta é uma só: Do pó vimos e do pó voltamos, e neste ínterim, deveríamos estar tentando mostrar aos nossos filhos que vale a pena estar neste grande organismo vido que é a terra, e ela está precisando , não de verdades pessoais, mas de mãos à obra, de luta contra a pobreza, fome e desigualdade, do fim das guerras, para que haja o silencio necessário para ser ter um real encontro com a Divindade.

 

Alex de Oxóssi

Rio Bonito – RJ

A ENERGIA DA CALHORDICE


PASTOR ARNALDO Vs PASTOR CAIO FABIO E O ATUAL UNIVERSO EVANGÉLICO

Não sei o que está acontecendo com o povo brasileiro, mas de modo geral, parece que ele está dormindo, ou anestesiado com o mais profundo dos opiáceos.

Neste ano, desde as primeiras horas, graças ao nosso Pai Maior, não tivemos tragédias naturais como as dos anos anteriores, mas estamos seguidamente sofrendo verdadeiros abalos sísmicos de origem moral, um após o outro, tal é a quantidade de escândalos que vem vindo a tona, de tal dimensão que não podem mais ser escondidos na capa da hipocrisia costumeira.

Estamos vendo diariamente a vergonha de um país despreparado para um evento do tamanho da Copa, onde os gastos ultrapassaram muitíssimo os cálculos contratados, e o percentual de obras prontas mostra a impossibilidade de tudo estar pronto a tempo.

Os aeroportos controlados pela Infraero afirmam candidamente que com certeza, APÒS a Copa, conseguirão finalizar as obras para a Segurança e Conforto necessários e imprescindíveis.

A Petrobrás mergulha num buraco negro de denuncias e atividades parvas, que transformaram uma empresa
fortíssima e lucrativa em ameaça do nome do Brasil perante o mundo, inclusive nos levando a um rebaixamento de nosso crédito perante a agência de risco Standard & Poor’s.

A mentira da energia elétrica barata ao povo, se transformou em constrangimento frente aos prejuízos de bilhões de reais , e de medida eleitoreira vai se transformando, pelo aumento de prováveis quase 20% em cada conta, em soterramento desta bandeira política.

Para quem não sabe, a revista “Isto É” desta semana divulgou um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujo objetivo foi avaliar a capacidade de alunos de 15 anos resolverem problemas, utilizando seu raciocínio lógico. Nos testes foram observadas as capacidades como interpretação, análise e organização de informações. A pesquisa envolveu 44 países e o Brasil ficou num vergonhoso 38º lugar . Os jovens, em 75% dos casos, obtiveram apenas o grau dois de proficiência ou abaixo. O que está acontecendo? Um adormecimento, uma falta de poder ou vontade de raciocinar, argumentar, desenvolver suas próprias convicções, liberdade de ideias, busca dos horizontes desenvolvedores….

 

PASTOR ARNALDO Vs PASTOR CAIO FABIO E O ATUAL UNIVERSO EVANGÉLICO

 

Em seguida vou trazer um problema levantado pelo Pastor Caio Fábio e pelo personagem Pastor Arnaldo, numa crítica ao que vem acontecendo nas igrejas evangélicas, e tomando rumos escandalizadores, como o próprio personagem Pastor Arnaldo cita. Tem tudo a ver com o que está escrito acima, uma estagnação na mente da maioria, uma incapacidade de sair de um torpor, e quando se sai, muitas vezes se transforma em processo inquisitório, observado por Arnaldo, o jornalista que faz o personagem Pastor Arnaldo, quando afirma que tem sofrido ameaças de morte, maldições e toda série de preconceito. Foi preciso a presença do Pastor Caio Fábio, que todos conhecem por sua idoneidade, equilíbrio e cultura, para que ele, através de um depoimento, abrisse os olhos dos que estão cegos e não estavam enxergando a verdade sob as palavras satíricas e críticas do Pastor Arnaldo ( personagem) , e sob seus palavrões, que representam a indignação contra hábitos controladores, extorsivos e grotescos.

Parece que tudo está permeado pelo abuso e a safadeza, e mesmo a religião, como cita o Pastor Caio Fábio em seu depoimento recente, em relação à Igreja Evangélica e seus desmandos, por parte de pastores corruptos e por outro lado de seguidores adormecidos, amolentados, fanatizados, que não sabem diferenciar os pastores corretos daqueles que se moldam em Feliciano, em Edir Macedo, em Malafaia e outros.

 

O Pastor Caio Fábio fala de uma Igreja Cristã deformada, fixada em temas como sexo, dinheiro, controle e abuso. Fala dos falsos profetas que pululam nos templos, do perigo de suas profecias, que podem levar, e levam ao suicídio aqueles que não conseguem encontrar a verdade em si mesmos. Pregam modos de vida, regras que não seguem, como os próprios palavrões que condenam, mas que proferem em abundância quando lidam com o cotidiano. Ele aponta a vergonha para os rumos que muitos estão tomando, e fala da necessidade das pessoas adquirem o mais rápido possível, a capacidade de ouvir e ver, que parece perdida.

È importante que cada um tenha sua crença, acredite em Deus, e siga o caminho que mais se coaduna com sua alma. Mas, ao buscar Deus, procure você mesmo, e deixe que ELE vá te achar e lhe conduzir para o caminho que mais lhe aprouver. E não misture as coisas do espírito com as coisas da matéria, no sentido de lucro, de ganhos. Somos espírito e matéria no dia a dia, sim, quando exercemos nossa capacidade de rir, de compartilhar, de ajudar, de trabalhar pelo bem comum, mas nada tem a ver ascensão espiritual e religiosidade quando se age em lucro próprio, quando se quer dominar o outro, quando se emite pensamentos malévolos, interesseiros, cobiçosos.

Vamos aprender a pensar, vamos nos descobrir a nós mesmos, para sabermos o que queremos de nossas vidas e nossas religiosidades. Vamos trabalhar e vencer pelo suor de nosso rosto, pois não há caminho fácil que seja lícito. Em geral os caminhos fáceis estão eivados de egoísmo, luxúria, vaidade, orgulho e todo este lixo mental que não podemos de modo algum acumular. Não buscamos a santidade, mas a humanidade, o direito de estar num Verdadeiro Caminho de Ascensão. Isto não se encontra fora, mas dentro de cada um, com incansáveis meditações, reflexões, estudos, observações, e sobretudo, fazendo o Bem , pensando em tudo e todos que estão em torno. Isto não dará tempo a ninguém para fofocas, para críticas, para objeções, preconceitos..Isto nos dará a capacidade de saber o Sim, saber o Não, nos desviar daquilo que nos fará perder tempo ou prejudicar nossa caminhada.

Vamos pedir à Estrela Guia, para nos orientar nos caminhos que nos farão melhores a cada dia.

 

Alex de Oxóssi

Rio Bonito – RJ

DISCERNIMENTO (POLÊMICA DA NOVELA GLOBAL)


Discernir é entender, compreender, ter critérios, bom senso.

Devemos usá-lo em todos os momentos para não corrermos o risco de desenvolver preconceitos e pré-julgamentos.

O discernimento é fruto de reflexão, da busca de conceitos que se harmonizem com a mente e que se refletirão nos atos, e com a forma que nos relacionamos.

A clareza de pensamentos e a segurança nos próprios conceitos, permite que exista um diálogo saudável, mesmo entre pessoas com opiniões diametralmente diferentes.

Quem tem em si a disposição de compreender, está também aberto a aprender novos conceitos, outros aspectos da vida que ainda não conhecia, consciente do arbítrio de concordar ou não, mas nunca combatendo ou querendo impor ferozmente seus pontos de vista, pois sabe que cada um tem o direito de perceber o mundo ao redor de diferentes formas, assim como tem seu próprio direito a esta percepção.

Vejamos o que a nova novela global vem trazendo. Focaliza a crença e a Fé em São Jorge. E eis que uma história ficcional está gerando polêmicas e levantando ânimos. Alguns acham ofensivo depositar a fé em santos, outros, não gostam de comparar São Jorge com o Orixá Ogum, não admitindo haver qualquer relação.

Para alguns de nós, umbandistas, há até a dúvida se São Jorge realmente existiu na Capadócia, ou se ele é a representação do guerreiro impávido, exemplo de coragem e destemor na luta pelas causas justas.

O que ocorre é que o homem é um ser belicoso por natureza, e se identifica com a figura do guerreiro com armas. E o homem necessita de arquétipos para compreensão de tudo o que lhe cerca. De acordo com Jung, discípulo de Freud, são imagens primordiais,originadas de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas no inconsciente coletivo.

Um exemplo fácil, uma cerveja, além de matar a sede, satisfaz a necessidade de pertencer a um grupo. Temos as “happy hours”, a cervejinha após o trabalho, onde a cerveja é coadjuvante da satisfação , quase uma obrigação de se ter amigos com quem se encontrar, conversando sobre os mais diferentes temas, sinônimo de relaxar, gastas umas horas fora a “dureza” da vida. A empresa que fabrica a cerveja que mais souber explorar esse arquétipo, será a mais famosa.

Precisamos de heróis, e essa necessidade inunda nossas vidas, as letras das músicas,os livros e os contos de fadas para crianças. Através da travessia dos heróis, nos guiamos e temos uma compreensão da vida cotidiana.

De maneira similar ocorre o mesmo na vida espiritual. Não conseguimos nos ligar com este aspecto transcendente se não tivermos imagens arquetípicas. Precisamos imaginar uma forma para o Mestre Jesus, criou-se uma série de apresentações para a Maria, nossa Mãe Amantíssima..

A Espiritualidade que decidiu trazer os ensinamentos do Mundo Maior, através de lições de Amor, Bondade e Caridade que embasam a Umbanda, determinou utilizar os arquétipos dos Caboclos e Pretos Velhos, que chegam até nós de maneira a que acertemos com naturalidade, sem sustos, facilitando nossa compreensão, enchendo-nos de confiança, de forma que os canais cósmicos que nos unem ao astral se abram com mais facilidade, nossos chacras vibram e se identificam com essas energias que vêm nos auxiliar,porque nos acostumamos a encontrar a proteção na força dos caboclos, serenidade no carinho dos pretos velhos.

São Jorge, a quem tanto pedimos, é a representação do que o Orixá Ogum significa para nós. Podemos mentalizar as imagens do Ogum africano, a partir dos desenhos que vemos, e conseguimos focalizar nossa atenção, como precisamos da vela, do copo d’água para canalizar nossos pedidos. Mas é a imagem forte de São Jorge que predomina na maioria das vezes, aquele que mata os dragões. Sabemos que não existem dragões na Terra,mas é essa imagem de São Jorge, transpassando o dragão com sua lança, que move nossas orações, e a ele agradecemos as graças alcançadas,pois, com certeza, a prece que vem do coração sempre encontra auxílio nessa Espiritualidade que nos cerca e protege.

Mas é necessário discernimento, pois por ser um guerreiro, São Jorge nunca trará a guerra, nunca derrubará ninguém, apenas pela vontade de outro que lhe quer mal. São Jorge, a sua representação, será para nós, da Umbanda, o Cavaleiro da Paz, aquele que protege seus filhos, desfaz as demandas, e os coloca nos caminhos para serem firmes, determinados, fortes. O melhor guerreiro é aquele que vence suas próprias batalhas, sem alarde, combates inúteis que ferem a Lei de Ação e Reação ou Lei do Retorno.

Então, dentro deste discernimento, vamos respeitar a Fé de cada um, suas crenças, seus limites, assim como temos os nossos, aceitando que cada um tem sua verdade . E lutando, sim para alcançar seu próprio equilíbrio, a direção da própria vida, sua serenidade e vitória sobre todas as dificuldades.

Alex de Oxóssi
Rio Bonito – RJ

CARNAVAL


Festa de alguma forma herdada de antigas festas da Veneza medieval, já foi festa do povo, mas hoje se sofisticou tanto como na época da burguesia italiana.

Existe ainda aquela alegria solta, nos blocos de rua, que pacificamente brincam, livrando-se das tensões, medos do dia a dia tumultuado.

É possível, sim, encontrar as fantasias simples, o despojamento e ausência de segundas intenções.

Vejo que esse ano há muita organização, por exemplo, no Rio. Há um verdadeiro bloco de catadores, que recolhem em um dia, entre latas e garrafas, o que conseguiriam num mês, ganhando uns trocados a mais, e ao mesmo tempo auxiliando a limpeza das ruas e na reciclagem de material descartável.

O carnaval de rua no nordeste, cheio de folclore e homenagens, este ano a Jorge Amado, Luiz Gonzaga, entre outros, vem mantendo a história viva no coração dos mais novos.

Nos barracões das grandes cidades, costureiras, artesãos, trabalhadores que o ano inteiro se instruem através do conhecimento que envolve os enredos, histórias de vida, emoções, dedicação, movendo os melhores sentimentos de união em prol do ideal de brilhar na avenida.

Paralela à arte que emana para todos os cantos do mundo, que encanta os milhares de turistas nacionais e internacionais, há fatos piores, que são as especulações multi-milionárias, que mexem com a vaidade, a competição, a ganância. Há pessoas que exorbitam o culto ao corpo, colocando-o a todo preço em evidência, para conseguirem lugar de destaque a qualquer custo.

Outros acham que carnaval é o esquecimento das porteiras morais, consideram que é um tempo de ninguém, que tudo pode, com excessos de todo tipo, esquecendo os limites de decoro ou respeito. Por conta destes exageros, muitos perdem suas vidas, ou a comprometem irremediavelmente expondo-se a violências, aos acidentes nas estradas, às doenças sexualmente transmissíveis.

Existe ainda quem quer obter dinheiro e sucesso fácil, há um verdadeiro mercado de troca por bons lugares em camarotes, em desfiles nas principais escolas de samba, rios de dinheiro gastos em segurança e em ambulâncias, para haver uma carência e atuação sofrível o resto do ano, o que iguala a este Brasil de interesses, a uma vitrine temporária e equivocada para o mundo.

O triste é que a mesma empolgação contagiante pode gerar violência, agressões e brigas numa ambiência propícia a tumultos e incompreensões. O importante é que não haja inversão de valores, como passar a considerar a vida apenas para o lazer e horas de total descompromisso, ou achar sofrimento na realidade do dia a dia de trabalho, desvalorizando as horas e o seu ganha-pão, o convívio com os colegas, esquecendo que a vida é isso, esse caminhar e compromissos, e não horas fátuas de auto-alheamento.

Que cada um viva o seu carnaval, encontrando descanso e alegria, mas sem colocar máscara no seu rosto ou na alma, para que não tenha preocupações ou dívidas consigo mesmo ou com outros por todos os demais dias.


Alex de Oxóssi

Rio Bonito – RJ

A PREFEITA DE S. GONÇALO NÁO É MAIS IMPORTANTE DO QUE A UMBANDA


Assim que surgiu o noticiário sobre a demolição da casa onde Zélio de Moraes nasceu a Umbanda, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, conversei com o Secretário de Obras daquela Prefeitura, Valmir Barros.

Aquele imóvel, onde nasceu a Umbanda, hoje é de propriedade de Verônica Matta da Silva Costa, tendo dado entrada do pedido de licença em 13 de abril deste ano.

A licença para demolição foi concedida pela prefeita Aparecida Panisset e a construção de um galpão, no lugar do berço da Umbanda, teve início no último dia 6 de julho.

Esse episódio encerra várias lições para todos nós, umbandistas.

Existem dezenas de terreiros de Umbanda e Candomblé que têm história. E que devem ser preservados, não pelo simples fato de serem terreiros, mas sobretudo, pelo seu significado cultural.

O maior exemplo de preservação de templos históricos vem da Igreja Católica, que – com a ajuda governamental – mantém intactas igrejas centenárias, algumas tombadas e reconhecidas como patrimônio mundial pela Unesco.

Em todo o Brasil, temos terreiros que são conhecidos por denominações diversas: Umbanda, Candomblé, Catimbó, Xangô, Batuque, Jurema etc, conforme o Estado de origem.

Alguns têm quase 100 anos. E devem ser preservados através de um movimento que parta de nossos irmãos em cada estado brasileiro. Como foi a Casa de Menininha do Gantois, na Bahia.

De quem é a responsabilidade nesse episódio de São Gonçalo, em que o centro onde Zélio de Moraes anunciou a criação da Umbanda, foi demolido em abril deste ano?

Vamos aos fatos. E fatos não são opiniões. Fatos são fatos. São inquestionáveis. Aconteceram.

É óbvio que a prefeita evangélica de São Gonçalo, Aparecida Panisset,  (que está no segundo mandato), SABIA SIM, que ali era um casarão, onde nasceu a Umbanda, em 1908. Afinal, ela é professora de História.

Ou alguém acha que o prefeito de uma cidade não sabe onde se encontram os mais importantes templos religiosos de seu município?

É zero a possibilidade da prefeita evangélica Aparecida Panisset ignorar que ali era o berço da Umbanda. É CLARO QUE ELA SABIA que ali existia um patrimônio cultural-religioso a ser preservado.

Se tivesse agido como prefeita, como administradora, E NÃO COMO EVANGÉLICA RADICAL, teria decretado o tombamento da casa onde Zélio anunciou a Umbanda.

Dá para imaginar que o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, desconheça a importância da Igreja da Candelária?

Ou que o prefeito de Salvador ignore a importância da casa de Mãe Meninha do Gantois (que aliás, foi tombada pelo Ministério da Cultura e pelo Iphan)?

Dá para imaginar que o prefeito de São Paulo, ignore a importância da Catedral da Sé?

É óbvio que a prefeita Aparecida Panisset, conhecida pela sua posição religiosa radical, com origem na Igreja Nova Vida (neopentecostal) dificilmente moveria uma palha para desapropriar aquele imóvel, salvando-o da demolição.

A mídia daquela cidade tem denunciado os benefícios governamentais da Panisset destinados aos neopentecostais gonçalenses: igrejas, funcionários, carros e  contratação de religiosos.

No seu primeiro ano de governo, segundo a imprensa, Aparecida Panisset ameaçou proibir a tradicional procissão e o tapete de sal de Corpus Christi, tradições católicas.

Numa longa entrevista ao jornal Extra (RJ), Aparecida Panisset se apresenta quase como uma personagem bíblica quando fala de si por meio de parábolas (ver trecho da matéria abaixo)

A prefeita de São Gonçalo, contudo, não é mais importante do que a Umbanda.

Não será pela omissão criminosa da prefeita Aparecida Panisset, que poderia ter impedido a demolição do primeiro imóvel da Umbanda através de um simples decreto de tombamento, que nossa religião deixará de avançar.

Pelo contrário, esse ato covarde só nos anima a avançar mais ainda.

Nenhuma outra religião no Brasil foi mais perseguida, humilhada, vilipendiada e agredida do que a Umbanda. Nenhuma!

Primeiro, foram os colonizadores que impingiram o sincretismo religioso aos escravos.

Depois, vieram as proibições aos cultos, que partiam de ordens das autoridades, chegando ao cúmulo das invasões pela policia dos terreiros, com médiuns presos, atabaques e símbolos religiosos destruídos.

Depois, na década de 80, grupos de ditos neopentecostais, na verdade, membros de seitas eletrônicas, fizeram de tudo para destruir a Umbanda, notadamente no Rio de Janeiro. A certeza de que seriam vitoriosos era tão grande, que partiram para cima da Igreja Católica, chegando a exibir na TV imagens de “bispos” chutando a imagem de Nossa Senhora da Aparecida.

Não conseguiram nos destruir. Não fecharam os terreiros. Não calaram nossos atabaques.

A Umbanda continua. Sem dízimo. Sem recursos. Sem emissoras de Rádio e TV. Sem ajuda do governo. Nada. Continua graças à fé nos espíritos de luz.

Por isso, a demolição da casa onde Zélio de Moraes anunciou a Umbanda, é apenas mais um episódio – doloroso, é verdade – na caminhada da nossa religião.

Daqui a um ano, a hoje prefeita Aparecida Panisset deixará a prefeitura de São Gonçalo. Pode até conquistar um ou outro cargo político. Mas, seu destino final está traçado: o ostracismo, o mais absoluto esquecimento.

Daqui a mais alguns anos, ninguém se lembrará de quem foi Aparecida Panisset. Em São Gonçalo, um ou outro se lembrará da ex-prefeita. Não deixará boas lembranças. Nenhum legado administrativo. Ou grande obra. Nada.

Ninguém no Estado Rio de Janeiro, e muito menos do Brasil, se lembrará de uma prefeita, que num dos municípios com maior desigualdade social do Estado do Rio de Janeiro, foi denunciada por proibir a procissão de Corpus Christi e demolir a primeira casa de Umbanda.

Aparecida Panisset desaparecerá no resíduo da História.

A Procissão de Corpus Christi e a Umbanda continuarão vivas. Vivas na memória e nos corações dos brasileiros.

UMBANDA UNIDA, UMBANDA FORTE!

Átila Nunes e Átila Nunes Neto

CAINDO FOGO EM NEVES – SÃO GONÇALO – RJ


Se em 1908 caiu neve, hoje cai fogo…

Bom dia a todos os irmãos

A respeito da destruição da casa, não foi o que vi ontem no RJTV, ela pode sim fazer e muito, mas não é a prioridade dela, hoje pela manhã eu estava ouvindo o Programa do Antonio Carlos, pela Radio Globo – RJ e ouvi o Senhor Manuel/Manoel Alves de Souza que se intitula presidente da Federação de Umbanda e ele afirmou que lá em Neves era um Centro Espirita “Kardecista”, olha sem brincadeira para ser presidente e desconhecer tanto nossa religião é fato para que várias outras unidades sejam destruídas, pois lá Senhor Manuel/Manoel Alves de Souza nunca foi o que o Senhor mencionou ao vivo na Radio Globo, quanto a sua tentativa desesperada de tentar dar legitimidade a Umbanda Traçada ficou latente no desconhecimento da Umbanda e de seu advento, para legitimar não precisa depreciar ou demonstrar desconhecimento, precisamos sim de pessoas que nos represente, mas que faça de forma que não deprecie qualquer forma de cultuar a Umbanda, nem mesmo que demonstre desconhecer demais formas ou ainda prestar informações erradas em um meio de comunicação.

Eu enviei um e-mail que enviei a Radio Globo tentando concertar o que foi dito no ar hoje pela manhã, mas já foi dito, agora caberá ou não a Rádio Globo consertar o que foi falado ao ar.

Senhor Manuel/Manoel Alves de Souza leia “As Religiões do Rio” João do Rio e perceba se em 1904 existia menção a Umbanda, depois sim o senhor poderá entender o que realmente deveria saber, ou seja, ninguém que tenta aprofundar os estudos dentro da Umbanda, afirma que foi após o advento que os Guias começaram a chegar nos Terreiros, afirmamos que após o advento houve sim uma organização nos cultos que já existiam e na maioria adequaram-se a nova Religião anunciada, respeitaram-se em partes ou total as Leis desta nova Religião, então venha dizer em meios de comunicações o que o senhor desconhece, pois se fala em nome da Umbanda, fala no nome de todos nós, eu não sei de onde o senhor tirou que existia o nome Umbanda antes de 1908, mas o trabalho de João do Rio pode dizer que não existia e também pode legitimar o que desesperadamente o senhor tentou.

Eu rogo ao Senhor Manuel/Manoel Alves de Souza desculpas neste momento, pois eu fiquei indignado pelo que eu ouvi, mas indignado ainda é pelo Senhor ser quem é e nos representar da forma que tentou. Mais indignado ainda eu fiquei foi o que ficou parecendo a todos, que na Floriano Peixoto, ou seja, em Neves São Gonçalo, nunca existiu um Terreiro de Umbanda, usarei suas palavras, “Ali não era Umbanda e sim um Centro Espírita Kardecista”.

Oxalá me dê paciência, Oxóssi me dê discernimento…

Como não existia?

Por favor, fale apenas o que o Senhor conhece e se desconhece procure conhecer, ou ainda seja sincero e diga DESCONHEÇO.

Irmãos por favor, muito cuidado quando for falar da Umbanda a meios de comunicação, tire sempre a sua paixão e use o seu verdadeiro AMOR, por toda forma de cultuar a Umbanda, respeite seus irmãos, assim será respeitado, aprenda que no quintal vizinho também pode ser Umbanda, aprenda que a Umbanda é plural e não singular, e principalmente aprenda a defender o que vocês acreditam ser Umbanda, sem tentar depreciar outra forma de culto a nossa Religião.

Alex de Oxóssi
Rio Bonito – RJ

Aguadem meus comentário logo depois desta publicação e quero ler também os comentários de todos vocês.

Casa onde foi fundada a umbanda, em São Gonçalo, será demolida esta semana


Thamyres Dias
02/10/2011

A estrutura metálica já está pronta para receber o telhado do novo galpão que vai ocupar o número 30 da Rua Floriano Peixoto, em Neves, São Gonçalo. Dentro do terreno, uma casinha centenária aguarda a demolição marcada, segundo o proprietário, ainda para esta semana. Poderia ser uma simples obra, não fosse um detalhe: a casa rosa, com a pintura já castigada pelos anos, é a última testemunha do nascimento da umbanda.

Foi no imóvel — que ocupava o centro de uma chácara, no início do século 20 —, que Zélio Fernandino de Moraes, então com 17 anos, dirigiu a primeira sessão da religião. Era 16 de novembro de 1908. A umbanda é a única manifestação religiosa 100% brasileira.

— A demolição nos deixa muito decepcionados, pois perdemos uma referência da chegada da mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas — diz Pedro Miranda, presidente da União Espiritista de Umbanda do Brasil, em referência à entidade que orientou Zélio a fundar a religião.

Espíritos tristes

A notícia também surpeendeu a mãe de santo Lucília Guimarães, do terreiro do Pai Maneco, em Curitiba, Paraná. Na década de 1990, ela veio ao Rio para pesquisar as origens da religião.

— Imagino que até os espíritos estejam tristes. É uma pena — lamenta ela.

Há mais de cem anos com a família de Zélio, o imóvel onde surgiu a umbanda foi vendido recentemente para o militar Wanderley da Silva, de 65 anos, que pretende transformar o local em um depósito e uma loja.

— Eu nunca soube que a casa tinha essa história. Mas agora já comprei, investi, não posso deixar de demolir — explica-se.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nunca houve um pedido de tombamento do imóvel. A antiga casa de Zélio também não é protegida pelo governo estadual ou pela Prefeitura de São Gonçalo.

De acordo com a última avaliação do IBGE, feita no Censo 2000, o Brasil tem quase 400 mil umbandistas. A religião está em todos os estados do país e também no Uruguai, Paraguai, Argentina, Portugal, Espanha e Japão.

‘Tudo acabou’

O terreiro de Zélio de Moraes — que recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade — funcionou por pouco anos em São Gonçalo. Os primeiros umbandistas mudaram-se logo para o Rio de Janeiro.

Primeiro, o centro funcionou na Rua Borja Castro, na Praça Quinze. A rua foi extinta, na década de 1950, para a construção da Perimetral. Dali, foram para a Avenida Presidente Vargas. O imóvel também foi demolido, dessa vez para dar lugar ao Terminal Rodoviário da Central do Brasil.

Uma nova mudança e mais uma demolição. A casa 59 da Rua Dom Gerardo, em frente ao mosteiro de São Bento, virou um estacionamento.

— Tudo acabou, eram prédios muito antigos. Lamento que o último registro também vai desaparecer. Mas o mais importante é que os ensinamentos do meu avô se perpetuem — pediu a neta de Zélio, Lygia Cunha, que hoje preside a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade. O terreiro agora funciona em uma sede própria, em Cachoeiras de Macacu, no interior do estado.

Capela de São Pedro

Antes de ser vendida, a casa onde nasceu a Umbanda abrigou uma capela católica. A última moradora do imóvel, uma descendente de Zélio que é muito católica, cedeu o espaço para os devotos. Quem administra a igrejinha — que também mudou de endereço — é dona Geraldina dos Santos, de 74 anos.

— Não tenho preconceito, não. Todos somos filhos de Deus. Se a religião nasceu lá, a casa devia ser preservada. É importante — disse.

Fonte Foto e Texto: Jornal Extra

Nove milhões!


Versão em Inglês (clique)

Os sonhos são importantíssimos em nossas vidas. Sonhos são as intuições, os sopros de uma outra dimensão que reverberam em nossa alma.

Dos sonhos, caminhamos, damos nossos primeiros passos, atingimos realizações e recomeçamos a sonhar, tecendo nossas vidas.

Assim foi com Povo de Aruanda. Iniciou com um sonho, um eco de uma grande colônica no astral, com espíritos voltados ao resgate daqueles caídos nos mais profundos abismos, de limites perdidos entre mundos, sob a tutela de poderosos guardiões.

E daí, o sonho, o sonho de divulgar idéias e conhecimentos, notícias do mundo espiritual, vivências, fundamentos, verdades, multiplicando-se em muitas histórias, depoimentos, discussões, qual fôsse uma escola, preparando os atuais encarnados para o trabalho incessante do outro lado.

Povo de Aruanda se espalhou pelo mundo, ganhou nove(9) milhões de acessos e eu espero, que cada um tenha levado para si uma lição, um fragmento de idéia, o reencontro consigo ou com a religião, readquirido a Fè, o Respeito, tenha debatido consigo mesmo e com muitos, tenha estudado, pesquisado, buscado um terreiro para trabalhar.

Muitos, acredito, comprometeram-se de fato, se era esse o seu destino, com a tarefa enorme de ser médium de Umbanda, trabalhando sem cessar, dentro e fora de sua casa espiritual, durante a vigília e o sono, uma espécie de sacerdócio. Outros, conseguiram obter auxílio moral, espiritual, para a saúde, para sua vida interior.

Povo de Aruanda ganhou tambem alguns desafetos pelo caminho, pois ninguém agrada a todos, mas é um grupo, uma egrégora que já se consolidou neste plano e mantém-se fornecendo informações, divulgando eventos, uma espéciede porto seguro, quer sejam dias de tempestade, mas também nos de Sol aberto, cheios de alegria.
Mas Povo de Aruanda segue firme numa outra esfera, com guias iluminados trabalhando sob a chancela dos Orixás, sob a bandeira da Caridade e do Amor. Caridade e Amor são irmãos. Palavras bonitas e fáceis, mas de árduo alcance nessa Terra Fria, onde somos tão imperfeitos e esmagados com uma ambiência tão turva.

Acreditamos que há muito mais do que a ilusão de nossos sentidos, nesta pseudo rotina de cada um. Acreditamos que a roda do destino está girando, e muito da vibração interna de cada um está movendo positiva ou negativamente o rumo das vidas.

Existe uma invisível corrente ligando cada ser encarnado ao outro, através de tarefas a serem feitas, batalhas a serem travadas, muros a serem ultrapassados, resgates a serem obidos, questões a serem resolvidas, reencontros, construções… Daí que não existe mesmo coincidências. O que há são nossas ações se afinizarem com nossas missões, entendermos a importância e valor da vida, com todas as dificuldades, com a consciência que tudo faz parte do crescimento. E dar as costas para estas lições, limitará as oportunidades de crescimento pessoal.

Se alguém ainda não se encontrou, não achou seu equilíbrio e caminho, não estará ainda apto a auxiliar ninguém ao seu redor, sem mais tarde sentir-se tolhido, ou injustiçado de alguma maneira. Na verdade será mais um a necessitar de ajuda, mais do que auxilia.

Por outro lado, aquele que se propôs a “arregaçar as mangas” e partir para o trabalho missionário de Caridade e Amor que a Umbanda acena, não pode ficar a reclamar e achar-se merecedor de benefícios extras. Será como cada um, apenas um pouco mais esclarecido, assim vislumbrando o caminho da Felicidade, natural, fluido e expontâneo.

Assim aprendi e acredito que cada leitor poderá tambem, a cada vez que se tornar mais depreendido, buscar sua Felicidade. Não sou melhor que ninguem, mas busco as migalhas de Luz que nossos abençoados mentores acenam, tão amorosamente, nunca negando que o caminho é trabalho, trabalho, trabalho. Trabalho mental, espiritual, que se reflete no cotidiano, nos encontros, nos desencontros, nas inúmeras ocorrências e escolhas de cada dia, que só observaremos e aprenderemos se estivermos vigilantes e atentos.
Mas tudo se inicia, de um primeiro passo…

Alex de Oxóssi
Rio Bonito – RJ

FIM DA ENCRUZILHADA


Cariocas dão suas versões para explicar o
sumiço dos despachos das ruas do Rio nos últimos anos

Por Mariana Filgueiras
Revista O Globo- 11/09/2011

Tal qual as mulheres e bobes nos cabelos, as carrocinhas de “tripeiras” e a nota de plástico de R$10, as macumbas sumiram das ruas do Rio. Quase não se veem mais despachos nas encruzilhadas da cidade, que outrora provocavam um misto de medo e curiosidade aos não-iniciados com suas velas, alguidás, charutos, pipoca e galinha preta. A observação é compartilhada por moradores, garis, boêmios (quem melhor sabe o que se passa nas madrugas?), estudiosos do tema e adeptos das religiões de origem africana.

Confesso que raramente vejo um. Só mesmo lá pelo interior de Magé comenta o escritor Alberto Mussa, pesquisador de mitologias, entre elas a afro-brasileira, e adepto do candomblé -. É uma pena, porque a umbanda (os candomblés usam mais a mata) é uma das criações mais espetaculares da cultura brasileira, totalmente miscigenada, com elementos católico-portugueses, africanos e indígenas. Um patrimônio que não podia desaparecer.

Para a antropóloga e professora da UFRJ Yvone Maggie, a redução dos rituais representa uma mudança na “cosmologia” dos brasileiros, na sua maneira de ver o mundo.

– Nos anos 80, era impossível andar nas ruas sem encontrar um despacho numa encruzilhada – lembra.

– Nos últimos 20 anos, houve uma diminuição sensível desses rituais, enquanto igrejas evangélicas se proliferavam pelas ruas. Talvez os brasilerios tenham se fartado de soluções de apelo à feitiçaria.

Se o sumiço dos ebós é um consenso, as razões do curioso fenômeno são distintas. Exímio observador das ruas cariocas, o sambista Moacyr Luz faz , com nostalgia, uma lista delas:

– Será que os despachos estão sendo feitos pela internet? Será que o medo tem afastado os trabalhos feitos na marugada? Até os mais devotos têm evitado as encruzilhadas. Também encareceram os cabritos e os alguidás. Os moradores de rua não estão livrando as oferendas, bebendo toda a uca, fumando todo o charuto. A sociedade está taõ solitária que a fé agora vem sitonizada nas TVs.

Não são teses infundadas as do boêmio, que já usou muitas mandingas como temas de canções. A costureira espírita Luiza (nome fictício, porque prefere não se identificar), mora no Estácio e costumava fazer oferndas pela cidade. Mas agora migrou seus rituais para matas distantes, evitando o assédio dos moradores de rua.

-Antes havia mais respeito. Agora é assim: eles mal veem que voce está cumprindo um ritual e já tomam os objetos para si. Como os exus são das ruas, as oferendas têm cigarros, cachaça, justamente o que os moradores de rua procuram – diz a costureira, que tambem acredita que houve uma conscientização ambiental por parte dos adeptos, que não deixam mais em qualquer lugar os trabalhos que possam ser confundidos com lixo.

Moradora da Ilha do Governador há 18 anos, a comerciante Ana Cristina de Souza, de 42 , conta que perto de sua casa, a caminho do Cemitério do Cacuia, há tres encruzilhadas onde toda sexta feira se via um amontoado de oferendas.

– Mas agora a Comlurb começa a limpar muito cedo, ás 6hs, então quase não se vê mais nada – relata Ana, que é católica.

Par muitos religiosos, no entanto, a desculpa não são os moradores de rua, a eficiência da Comlurb ou os sites que fazem macumba online (eles existem mesmo). A principal razão pela qual as manifestações públicas estão inibidas, alegam os seguidores, é o preconceito. O músico e compositor Cláudio Jorge, integrante da banda de Martinho da Vila, foi um dos que já passaram por constrangimento no Rio.

Cláudio lembra bem de um episódio:

– Uma vez foi na Praia de Botafogo, onde evangélicos tentaram me impedir de acender uma vela na areia. A outra foi em Santíssimo, na minha casa de santo. Fomos arriar um despacho numa encruzilhada, quando um grupo, saindo de um culto, começou a nos ofender. Ficamos preocupados porque era tarde da noite, e isso nos fez mudar de local de nossos ebós.

Dirigente umbandista do templo Estrela do Oriente, em Piedade, Luis Fernando Barros conta que já foi até impedido de entrar no Parque Nacional da Tijuca.

Mesmo garantindo que manteríamos o local limpo, e que só haveria cânticos, não obtivemos autorização nem qualquer justificativa (dos seguranças do parque). Fizemos nossa gira em outro local, mas perdoamos os que agiram de forma pouco respeitosa – conta Luis.- A umbanda é uma religião essencialmente ecológica, os Orixás e as Entidades são energias presentes na natureza. Entendemos que, ao sujarmos o meio ambiente, agredimos o sagrado panteão.

Nem todos os adeptos, no entanto, têm essa visão.Por conta da quantidade de despachos que são deixados no Alto da Boa Vista, para onde muitas das oferendas urbanas migraram, a Comlurb teve de designar um gari exclusivo para limpá-los: Alexandre Borges, homônimo do ator de novelas. A escolha de Alexandre foi pensada. Como os antigos garis tinham medo de mexer nas oferendas – e acabavam não limpando a mata direito – procuraram um profissional que fôsse simpático aos ritos. Encontraram Alexandre, que além de gari, é pai de santo em Mesquita.

– Vem o Dia das Crianças, aí um dos mais concorridos depois do dia de São Jorge. A cachoeira fica cheia de trabalhos. Eu sempre oriento o pessoal a deixar tudo mais ou menos organizado, e não tão espalhado, para ficar mais fácil de recolher depois. Mas nem todo mundo faz – detalha Alexandre, que prefere fazer seus despachos no próprio centro que dirige.

A falta de um local seguro para a prática das oferendas provocou uma série de discussões no centro Espiritualista Semeadores de Luz, na Ilha do Governador, e na Casa Nagô Vodu, em Magé.

– Há um apelo dos adeptos em conseguir um espaço destinado ao despachos, onde os praticantes possam realizar seus rituais resguardados da repreensão de policiais, vigias e guardas florestais – declara o dirigente Marcelo Prazeres, lembrando que muitos profissionais agem influenciados por crenças particulares.

As tentativas de se implantar “macumbódromos” não são novidade (primeiro projeto de lei neste sentido data de 1990), no entanto, nunca saíram do papel. Ou não duraram muito tempo, como a ideia de usar dois tocos de árvore para delimitar a área de oferendas na Avenida Edson Passos, no Alto da Boa Vista, implementada pelo Prefeito Cesar Maia, em 2003 – e suspensa logo depois pelo mesmo. Uma exceção é um espaço que reúne com frequencia umandistas na Praça São Jorge, em Sulacap, na Zona Oeste, apesar dos protestos dos moradores.

O escritor Alberto Mussa analisa a urgência dos “ebós” para as religiões africanas:

– Há uma diferença teórica muito imporante entre as religiões derivadas do judaísmo, como a católica, que tranferem todo o problema para a vida depois da morte. O importante é a pessoa se garantir para o além-túmulo – explica. – as religiões africanas não são assim. As coisas têm de acontecer agora, porque o paraíso é a terra, a vida na terra é o grande bem. Por isso, os ebós são sempre ligados a pedidos e ações imediatas. Nesse confronto, as religiões africanas estão perdendo espaço.

 

Por Mariana Filgueiras
Revista O Globo- 11/09/2011