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PORQUE NÃO FUI À CAMINHADA


Na semana que passou refleti a respeito da Caminhada, e resolvi que mesmo que houvesse condições, esse ano eu não iria, como não fui. Quem sabe ano que vem, eu vá e aprecie de perto a confraternização, que este ano reuniu milhares de pessoas e espero continuar reunindo.

Eu espero que todas aquelas pessoas tenham realmente consciência do que representam, da força que estão mostrando, ao assumirem suas religiões ao mundo, que a intolerância e a intransigência de ver ser abolida da sociedade humana, não somente em relação às religiões, mas em relação a todos os pontos de conflito que separam nossos irmãos em humanidade.

Espero que cada irmão tenha refletido que nós somos o próprio templo, e temos de cuidar de nosso corpo e espírito, honrando-o, protegendo-o, mantendo-o limpo de fato, mas sobretudo moralmente, em tempo integral, não somente em momentos como esse que ocorreu, não somente dentro de uma casa religiosa. Somos seres duais o tempo todo, corpo e espírito, nos relacionando e mostrando nossa conduta para os outros seres humano visíveis, e para um público dezenas vezes maior na invisibilidade. Temos de ser incorruptíveis aqui e acolá. Mostrar que nossas intenções são as mesmas dos dois lados, e não sermos vendilhões do templo, ou crianças inconseqüentes que seguem uma doutrina sem nos dedicarmos ao seu estudo e compreende-la de fato, praticando-a. Não é católico que apenas vai á igreja esporadicamente e só reza nesses momentos, não é espírita aquele que apenas vai a algumas palestras apenas pelos passes no final. Não é umbandista aquele que fica atrás dos pretos velhos e caboclos ”mais formosos”, escolhendo e pulando filas, para se descarregarem, sem saber que isso pode ser feito no interior de suas almas, em comunhão consigo mesmo.

Chego então ao ponto que quero. Verifico que temos sim, Fé, mas não temos União. Não temos um pensamento único. E essa excessiva dicotomização que a Umbanda vem sofrendo a afasta cada vez mais da possibilidade de união. Vejo a necessidade de se chegar a um acordo, e que haja de algum modo uma diretriz, como ocorrem com todas as religiões. Onde o representante de uma religião, se argüido, falará sobre a mesma da mesma maneira que A.B ou C. Dentro desta caminhada, se fizessem perguntas a 10 umbandistas, o percentual de respostas divergentes poderia chegar até 100%. Com risco de haver manifestação de intolerância intra-religioso.

Como haveremos de conciliar as raízes caboclas e africanas de nossa religião? Quem elegeremos como autor que direciona nossas condutas? Se muitos repudiam a Missão do caboclo das Sete Encruzilhadas, a quem seguiremos? Se sabemos da importância dos Exus de Lei em nossos templos, onde eles são citados, e onde estudaremos suas formas de manifestação, o que é e o que não é permitido? Quantos templos umbandistas mantém cursos para os médiuns novatos? Quem está ensinando? Baseados em que literatura?  Isto, sem falar que há alguns que acham que Umbanda não é para ser estudada em livros, mas somente escutada a partir da relação com os guias. Se não está havendo uma unificação em nossos próprios pensamentos e condutas, o que estaremos representando numa caminhada dessas, o que estaremos aprovando ou não? Saberemos o que o outro irmão representante está fazendo em seu terreiro, ele estará sabendo o que fazemos no nosso? O que ele acredita é o que acreditamos, o que ele sabe é o que sabemos?

Nada disso que escrevo supõe fanatismo, mas tendo visto tantas coisas, presenciado tantas desavenças, observado tantos desatinos em nome de minha religião, eu espero que nas próximas Caminhadas , cada umbandista que estiver ali, não esteja apenas desfilando e descontraindo, mas esteja verdadeiramente representando uma crença, ciente de seus fundamentos, sabendo o que gosta e o que não gosta nas infinitas inserções que dizem ser Umbanda, que saiba defini-la, a começar do nome, suas linhas, suas verdades, sua Força. Nesse dia, vai valer a pena estar lá, ser mais um dando a mão numa imensa corrente pela Paz, vibrando em nome do Amor e da caridade não apenas um desfile festivo.

Sarava a todos!